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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Ex-presidente do PT declara voto em Marina


Salvador Fernandes é ex-presidente do Diretório Estadual do PT

Por Salvador Fernandes*


O espectro marinista atormenta as mentes e corações petistas e psdebistas. O trágico falecimento de Eduardo Campos colocou inesperadamente Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima no centro do jogo sucessório presidencial, e com consideráveis chances de sair vencedora do pleito eleitoral. Isso numa disputa anterior insossa, que marchava para ser resolvida, provavelmente, no primeiro turno. Era o que apontavam as pesquisas eleitorais, com uma tendência de reeleição sem graves solavancos da presidente Dilma, nem que para isso fosse necessário um improvável segundo turno.

Agora, perdurando o cenário atual, o desfecho das eleições presidenciais brasileira está indefinido e promete ainda muitos lances midiáticos, de mais mentiras que verdades.

Uma pergunta a ser respondida: por que a candidata Marina causa tanto rebuliço na já assentada, previsível e maniqueísta disputa entre petistas e tucanos? Logo esta raquítica senhora de 56 anos de idade, filha de retirantes cearenses, de pai seringueiro e mãe dona de casa, que se enfronharam nas matas acreanas há mais de 60 anos, cuja adolescência viveu com sua família em uma palafita chamada Breu Velho, no seringal Bagaço, a 70 km do centro de Rio Branco/AC, que conheceu as primeiras letras do alfabeto aos 16 anos, nos bancos escolares do programa educacional da ditadura militar denominado MOBRAL, sobejo da morte em decorrência de inúmeros problemas de saúde, tais como: malária, contaminação por mercúrio e leishmaniose.

Será a sua coerência e trajetória de vida? Ou a firmeza na defesa de suas ideias? Ou, ainda, o seu biótipo, que se confunde com o perfil miscigenado do povo brasileiro? Não me atrevo a tentar responder.

Sei que para os tucanos uma nova derrota aponta para o esfarelamento de um projeto de retorno ao poder, após o fracasso em quatro disputas presidenciais sucessivas. Até aqui, o desempenho de Aécio Neves nas pesquisas eleitorais está aquém dos resultados eleitorais alcançados por José Serra e Geraldo Alckmin, o que sinaliza para uma mudança futura na estratégia e tática psdebista.

Nas hostes petistas, Marina eleita, além da nostalgia de uma derrota para um ex-quadro das fileiras petistas, significará o esgotamento momentâneo do lulismo como instância infalível de construção das conquistas eleitorais em âmbito nacional. Acrescento como consequência ao revés eleitoral, a retração de uma parte significativa das elites partidária e sindical, com ramificações nos diversificados movimentos populares, de viés utilitarista, parasitário e dependente das arcas públicas.

Aflige, também, ao estrelato lulista, a possibilidade de consolidação de um novo polo do centro-esquerda, sob liderança nacional de Marina e com um forte apelo político-eleitoral. Esse movimento recepcionará, inclusive, o êxodo de muitos parlamentares, dirigentes e lideranças petistas descontentes com os rumos incoerentes tomados pela agremiação partidária.

Eis as razões para tanto ataque à candidata Marina, muitos deles que se aproximam do receituário propagandista do nazifascismo.

Os tucanos, senhores da meritocracia não esclarecida, equiparam Marina à tradição petista dominante. Além de tentarem chamuscar a sua trajetória militante, omitem o seu rompimento com o PT, inclusive por razões programáticas, e seu esforço de construção de uma inovadora organização partidária intitulada Rede de Sustentabilidade.

Candidata Marina Silva (PSB)
O repertório lulo/dilmista de desconstrução, ou “dessacralização” - o termo adotado pelos marqueteiros petistas -, de Marina é variado, ferino, e, sobretudo, desleal. Agarram-se a detalhes de sua trajetória, a aspecto comportamental ou a qualquer entrelinha de seu programa de governo – nesse particular, importa lembrar que até hoje, a menos de um mês da eleição, Dilma, assim como Aécio, não lançou seu programa de governo. Os petistas elegeram, no plano da política econômica, a autonomia/independência do Banco Central como temática básica para tentar caracterizar de liberal o conteúdo do Programa de Governo Marinista. Omitem que a entidade é uma autarquia, portanto, pelo menos juridicamente, detentora de autonomia. Os defensores do modelo atual de gestão monetária, arautos da ingerência política do chefe do Executivo Federal nas decisões colegiadas da entidade, não conseguem explicar o porquê do persistente descontrole inflacionário, do crescimento econômico pífio e da taxa SELIC tão atrativa para os sanguessugas dos mercados financeiros nacional e internacional. Ah, como sempre, culpam o cenário econômico internacional desfavorável!

As vicissitudes do exercício do cargo de Presidente da República não permitem que uma candidata lacrimeje diante das críticas desonestas. Se as lágrimas transbordam do rosto esguio de Marina, sinaliza fraqueza, desequilíbrio emocional. Se escorrerem da rosada face de Lula, como já aconteceu em vários momentos de sua vida pública, é demonstração de sensibilidade ou externalização de sua liderança popular.

Contrapõem-se à inovação nas relações políticas. Representa aventureirismo. Buscar governar com os melhores quadros, nem pensar. Como se Marina afirmasse que, no caso de vitória eleitoral, excluiria o Congresso Nacional como espaço estratégico de negociação política. Perdem de vista, os petistas, que o discurso do novo, da ética nas tratativas políticas e do compromisso com as mudanças estruturais lastrearam a caminhada partidária até a vitória de Lula em 2002.

Hoje, depois de descambarem para o estreitamento de relações com o que há de pior na política brasileira, silenciam às imposições dos chefes oligárquicos. Como ficou escancarado na declaração debochada do Senador José Sarney sobre o poder de veto à indicação de Flávio Dino à presidência da Embratur, ou na nomeação e manutenção de Edison Lobão no Ministério das Minas e Energia. Isso sem que esse permanente fantoche de Sarney tenha formação técnica mínima exigida para o exercício do cargo, além de todos os indícios de participação no presente esquema de corrupção instalado na Petrobras.

Não admitem o desabrochar de novos atores na mediação da política nacional. Aliás, olvidaram a máxima, dita e repetida por décadas, que uma das fragilidades da democracia brasileira era a ausência de agremiações partidárias programáticas. Atitude política tosca, para justificar, ao longo de 12 anos, o protelamento da reforma política, entre uma das mudanças estruturais imprescindíveis, porém esquecidas.

Apregoam o medo, como medida para garantir as conquistas sociais e evitar uma Marina, tachada como inexperiente, na presidência da República. A mesma cantilena direitista utilizada contra Lula em 1989, 1994... Ainda, esquecem que o importante legado da ampliação das políticas de transferência direta de renda e dos investimentos nos programas educacionais é nitidamente contraposto por relações políticas nada republicanas. Intermediações que garantem a reprodução das anacrônicas oligarquias, principalmente no nordeste e norte do País, artífices estruturais da miséria e da fome daquelas milhões de famílias que clamam por um cartão do bolsa família ou uma vaga para os filhos no Pronatec. Ostentadoras de riquezas extraídas/arrancadas dos orçamentos públicos e dos projetos picaretas financiados pelos bancos oficiais.

A voz rouca e contundente de Lula pedindo voto para as candidaturas de Lobão Filho, Renan Calheiros Filho e Helder Barbalho (filho de Jader Barbalho) simboliza a reafirmação das escolhas preferenciais do petismo.

Por isso, voto em Marina, sem Medo de ser Feliz, com a convicção de que, mais uma vez, a Esperança vencerá o Medo.


*Salvador Fernandes
Economista
Servidor público federal
Ex-presidente estadual do PT/MA (1996-1999)



sábado, 12 de abril de 2014

O FICO desconsolado e melancólico

Articulista comenta os bastidores da permanência de Roseana no governo do Maranhão.



Por Salvador Fernandes*

A Governadora Roseana Sarney Murad anunciou que fica no cargo até o final do mandato. Há duas vertentes de explicação: uma, de dimensão estritamente pessoal, onde sinaliza que cansou das lides ”politicas” e cogita uma vida longe dos holofotes, cujas prioridades são as relações de cunho familiar; outra, de aspecto institucional, que seria justificada pela necessidade de concluir sua “exitosa” administração estadual, cantada em verso e prosa como o melhor governo de sua vida, aquele que está catapultando os maranhenses ao idílico mundo das nações desenvolvidas. 

Sem delongas, esta foi uma decisão política indesejada, consequência do progressivo exaurimento do longo domínio oligárquico no Maranhão, ocasionando, inclusive, a fulminante desistência da capenga pré-candidatura de Luís Fernando Silva ao Governo do Estado. Para isto, contribuiu o precipitado e forçado enclausuramento político do ex-vice-governador na Corte de Contas maranhense, situação que provocou a transferência prioritária do jogo sucessório para o Legislativo estadual. Lá no parlamento, a “Branca” encontrou uma inesperada resistência ao pré-concebido desfecho de sua intrincada equação continuísta.

O Clã precisava de Roseana Sarney com mandato no Congresso Nacional. Afinal, a governadora, ao lado do Senador Sarney, são os principais expoentes da oligarquia, e o êxito de seus negócios depende, sobretudo, da força que exala dos mandatos conquistados. Porém, para eles, a condução das relações de Poder é, antes de tudo, de natureza familiar. Dessa forma, jamais confiariam, ou terceirizariam, o comando do governo estadual. Seja a uma “estrela” recém incorporada à sua constelação oligárquica, ou, especialmente, a um Presidente de Casa Legislativa sedento pela cadeira do Palácio dos Leões, cujo principal conselheiro é ninguém menos que o Ex-Governador José Reinaldo Tavares – integrante do rol de inimigos mortais do Velho Morubixaba.

O certo é que a Oligarquia não tinha garantias de eleger, pela via indireta, Luís Fernando oficialmente governador do Maranhão. Logo, os outros conluios tentados no Legislativo estadual direcionavam-se para uma possível relativização da necessária fidelidade canina, exigida do sucessor da governadora. Preterida no parlamento, a Oligarquia não podia abdicar da Arca estadual, instrumento primordial e estratégico para buscar, mediante emprego do patrimonialismo escancarado, reverter o quadro eleitoral que se apresenta absolutamente desfavorável. Além disso, não desejam a repetição da malograda experiência de 2006, quando a Oligarquia disputou, com a própria Roseana, o governo estadual, sem estar no seu comando, e foi derrotada pelo saudoso Jackson Lago. Assim, a permanência da Governadora Roseana Sarney hipoteca a viabilização plena do tradicional “modus operandi” eleitoral da Oligarquia.

Todavia, outros estorvos políticos se avizinham. Destaca-se a conjuntura de indefinição nas hostes dos petistas locais, reforçada pela renúncia de Luís Fernando. Antes da desistência do pré-candidato governista, o PT maranhense, nas palavras de seus dirigentes do campo majoritário, seria novamente aliado da Oligarquia no próximo pleito estadual.

Agora, com a ambiência de crise no “arraiá” oligárquico, potencializada pela perda dos cargos ocupados por petistas na administração estadual, argumentam que a questão da sucessão estadual precisa ser “rediscutida”. No entanto, a instância estadual “opina”, mas não decide. A deliberação final será da Direção Nacional do Partido. A perspectiva é de modificação de seu posicionamento sobre a conjuntura sucessória local. Isto por conta: do desgaste nacional decorrente da estreita e prolongada relação politica do PT com a oligarquia Sarney; da recente queda nas pesquisas eleitorais da candidata Dilma Roussef; e, na esfera estadual, da manutenção persistente da pré-candidatura de Flávio Dino em patamares de intenções de votos superiores a 50%.

Os últimos acontecimentos políticos no seio oligárquico reforçam a tendência de que a sigla trabalhadora descarte um alinhamento exclusivo com as candidaturas majoritárias sarneisistas. Esse novo cenário enfraquece a tese que tenta viabilizar um acordo com as demais forças políticas integrantes da base governista no Estado, enquanto que reforça a idéia de lançamento uma candidatura “pró-forma” ao Governo estadual. 

Entretanto, caso se confirme a propensão de queda da presidente Dilma, e Lula venha substituí-la, acentuam-se as possibilidades da tentativa de imposição de um cenário de coalização partidária. Se não prosperar a ideia do chapão da base aliada estadual, e Lula se torne candidato presidencial, haverá uma revitalização dos laços políticos com a Oligarquia, ficando, mais uma vez, as forças democráticas, hoje majoritariamente aglutinadas em torno do pré-candidato Flavio Dino, num plano secundário.

No processo eleitoral de 2010, o PT foi fundamental ao avalizar uma sobrevida política-eleitoral à oligarquia Sarney. Em 2014, o cenário político-eleitoral aponta para o desfazimento relativo, pelo PT nacional, da eterna gratidão ao “imortal” José Sarney, materializada em substantivos espaços na administração federal e nos apoios ostensivos às candidaturas majoritárias oligárquicas no Estado.

Salvador Fernandes é servidor público federal, economista e ex-Presidente Estadual do PT/MA(1996-1999).

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Tragédia, farsa e esperança na política-Entrevista com Salvador Fernandes


Um dos melhores quadros da esquerda, o ex-presidente do PT Salvador Fernandes analisa os fluxos e refluxos de alguns partidos do campo democrático-popular na relação com a oligarquia Sarney, em três momentos importantes: a captura do PMDB nos anos 1980, o adesismo do PCdoB (1985 - 2000), o controle do PV e a intervenção no PT a partir de 2010.
Salvador Fernandes, ex-presidente do Diretório Estadual do PT/MA

Fonte: Jornal Pequeno


No cenário atual, Fernandes critica a composição da frente liderada pelo comunista Flavio Dino e dá por perdida a Resistência Petista no Maranhão, diante dos compromissos entre o PT e o PMDB no plano nacional. Mas, nem tudo está perdido. Salvador vê esperança nos novos partidos de esquerda. Veja a entrevista.


Perfil:


Salvador Jackson Nunes Fernandes: economista, servidor concursado da Controladoria Geral da União (CGU), no cargo de analista de finanças e controle. Filiado ao PT desde 1980, foi titular da Secretaria Geral e da Secretaria de Finanças do partido e presidente do Diretório Regional do PT no Maranhão (gestões 1996-1997 e 1998-1999).

Blogue – Como você analisa o processo de ingerência do senador José Sarney no PT do Maranhão?

Salvador Fernandes – Do ponto de vista libertário, representa uma avassaladora derrota político-partidária de um grupo de militantes que dedicou três décadas de suas vidas construindo uma agremiação independente, que, no terreno local, tinha como principal motivo existencial o enfrentamento aos desmandos de uma oligarquia, que construiu e consolidou a sua legitimação à custa da ignorância, em parte planejada, da maioria de uma população originária ou descendente do mais absoluto atraso rural.

Blogue – Seria possível a ingerência local sem o consentimento do PT nacional?

Salvador Fernandes – Sim, mas num quadro de disputa política interna que dividia o partido entre os adesistas oligárquicos e os que defendiam o alinhamento partidário com as forças de oposição. A partir da intervenção da Direção Nacional em 2010, quando foi preterida a decisão estadual de apoiar a candidatura de Flávio Dino ao Governo do Estado, com o subsídio dos derrotados na refrega interna local, ficou clara a opção política daqueles que têm o controle partidário nacional. Assim, o isolamento dos agrupamentos anti-Sarney dos fóruns de decisão partidária e dos espaços institucionais representou a sentença de morte das possibilidades políticas de mudanças nos rumos do PT maranhense.

Blogue – Existe um campo – a Resistência Petista – que não se alinhou à aliança com o PMDB no Maranhão. A Resistência tem força para influenciar a direção nacional do PT?

Salvador Fernandes – Lamentavelmente, não creio nessa possibilidade. A posição político-eleitoral do PT maranhense será definida pela coordenação nacional de campanha de Dilma Rousseff, com base no entendimento político do ex-presidente Lula sobre a importância da função do Senador José Sarney no quadro da disputa nacional eleitoral de 2014.

Blogue – Como você avalia a desfiliação dos deputados estadual Bira do Pindaré e federal Domingos Dutra do PT?


Salvador Fernandes – São duas lideranças de significativa influência no quadro de disputa interna petista. É verdade que essas desfiliações enfraqueceram o campo denominado Resistência Petista, mas, do ponto de vista político, são duas vozes em retirada que simbolizam o sentimento de indignação de muitos sujeitos sociais que repugnam a subserviência do PT maranhense aos interesses oligárquicos.

Blogue – Já houve casos semelhantes no Maranhão, situações em que a oligarquia Sarney beneficiou-se da adesão ou se apropriou de partidos do campo democrático-popular?

Salvador Fernandes - Vários. Como registro de adesismo, cito o caso do PCdoB que, no período de 1985 a 2000, apoiou candidatos e participou de governos estaduais da oligarquia. Destacam-se os dois primeiros governos de Roseana Sarney, quando o partido ocupou vários espaços institucionais da administração estadual - alguns de relevo. A sigla tratava o governo oligárquico como uma administração progressista. Exemplo de apropriação, tem-se o emblemático episódio do PV que, desde sua gênese local, fez parte da cesta de siglas partidárias a serviço do grupo Sarney.

Blogue – O MDB também passou por um processo semelhante ao PT no Maranhão? Como e quando isso ocorreu? Quais eram as personagens desse período?

Salvador Fernandes – Durante o bipartidarismo imposto pela ditadura militar, o MDB nacional era o pólo aglutinador das forças progressistas brasileiras. Na seção maranhense não foi diferente. Porém, a partir do início da década de 1980, após a permissão legal de organização de outros partidos, parte significativa de sua militância progressista deixou, por questões ideológicas, o MDB maranhense em direção ao PT, PDT, PCdoB e PCB. Nesse rearranjo partidário ocorrido ao longo da década de 1980 e início da década de 1990, atores importantes como Jackson Lago abraçou o trabalhismo brizolista e Freitas Diniz e Haroldo Saboia filiaram-se ao PT. Estes são alguns exemplos de lideranças progressistas que exerceram influência e cargos eletivos na antiga sigla. A saída dos agrupamentos de centro-esquerda, os quais davam dinamismo ao rebatizado (P)MDB e o colocava em oposição acirrada à oligarquia, bem como o acordo nacional entre José Sarney e a maioria peemedebista dirigida por Ulisses Guimarães - arranjo político que alçou Epitácio Cafeteira ao Governo do Estado e possibilitou José Sarney ocupar, na chapa majoritária nacional, o cargo de vice-presidente e posteriormente presidente da República, após o prematuro falecimento do titular Tancredo Neves - levou à descaracterização da renomada agremiação da resistência democrática. Em poucos anos o PMDB tornou-se umas das peças-chave do jogo político oligárquico, nas dimensões estadual e nacional.


Blogue – Como você interpreta os movimentos de Flavio Dino para disputar o governo do Maranhão?

Salvador Fernandes - Não me surpreende, embora não concorde com a amplitude da coalizão eleitoral em formação. Afinal, esta sempre foi a tática apregoada pelo PCdoB em relação, nos marcos da democracia burguesa, às disputas eleitorais e à ocupação dos espaços institucionais. Outro elemento discordante, na candidatura oposicionista, a exemplo do que ocorreu na eleição de Jackson Lago ao Governo do Estado, é que os comunistas, apesar de seu qualificado candidato, arroubam-se como únicos protagonistas do processo político. Portanto, os erros e acertos na condução dos acordos político-eleitorais vão para conta do excessivo centralismo partidário, marca das organizações leninistas. Considero tal prática política ultrapassada, principalmente diante dos anseios por mudanças democráticas de vários segmentos sociais maranhenses, expressos nos motivadores resultados alcançados, pelo pré-candidato Flávio Dino, nas pesquisas eleitorais de intenções de votos.

Blogue – Qual o perfil da aliança costurada por Dino?

Salvador Fernandes – Desenha-se a constituição de uma aliança bem mais ampla do que aquela que elegeu o saudoso Jackson Lago. Configura-se uma base de sustentação majoritariamente conservadora cujo recorrente patrimonialismo consistirá num travo às perspectivas de mudanças. Corre-se, mais uma vez, o risco do engessamento político-administrativo. Porém, ao mesmo tempo, e dependendo do grau de autonomia política do núcleo dirigente governamental, pode-se estar abrindo as portas de um novo ciclo político no Maranhão pautado na transparência, na gestão democrática e na inversão de prioridades.

Blogue – Recentemente, circulou na mídia nacional a versão de que Lula e Dilma se afastaram de José Sarney e apoiariam Flavio Dino para o governo do Maranhão. Essa versão tem consistência e futuro até 2014?

Salvador Fernandes – No Maranhão, o cenário ideal para a candidata Dilma é ter o apoio ostensivo dos dois candidatos majoritários da base governista federal. Para isso, a coordenação nacional de campanha da presidente buscará amenizar os tensionamentos locais, inclusive propondo um acordo local que envolva cargos em órgãos e entidades das duas esferas de Governo, vagas no Senado e na Câmara dos Deputados. Caso contrário, não vejo o PCdoB e o candidato Flávio Dino com cacife político-eleitoral suficiente que persuada Lula a explicitar um rompimento político com o senador José Sarney, o que levaria a sérios embaraços com o restante da cúpula nacional do PMDB.

Blogue – Por que você se afastou da vida partidária?


Salvador Fernandes – Por duas razões básicas. Primeiro, não poderia continuar priorizando a intensiva militância partidária em detrimento da minha vida profissional. Nunca comunguei da ideia do militante profissional por toda vida, principalmente num ambiente de relativa democracia e múltiplas possibilidades de militância cidadã. Depois, talvez a principal causa, pelo enraizamento progressivo de todas as mazelas da política tradicional no cotidiano partidário. De célula da sociedade que se propunha, a toda hora, a transformar os métodos político-administrativos conservadores, foi tornando-se progressivamente cúmplice e praticante dos mesmos vícios.

Blogue – Como você interpreta o novo campo da esquerda no Maranhão, liderado pelo PSOL e PSTU?

Salvador Fernandes – É apropriado que se diga que boa parte dessa militância saiu das fileiras petistas. São partidos com diferenças, entre elas a compreensão sobre as disputas institucionais, mas que congregam uma parcela da cidadania que acredita em transformações sociais significativas por outros caminhos democráticos, distintos daqueles delineados pelos tradicionais partidos de centro-esquerda, cujo principal expoente é o Partido dos Trabalhadores.

Blogue – Da mesma maneira que Sarney tomou o PMDB, se apropriou do PT no Maranhão. A História se repete como farsa ou tragédia?

Salvador Fernandes – Trágica, para aqueles militantes e eleitores que, por anos a fio, acreditaram nessas corporações como instrumentos de mudanças sociais. Sob farsa e sem dignidade, para aqueles que estão se locupletando (ou se locupletaram) de benesses momentâneas decorrentes do desenfreado adesismo às determinações oligárquicas

terça-feira, 2 de abril de 2013

Os limites do exaurimento político do grupo Sarney

  Por Salvador Fernandes*
   
A cada pleito eleitoral, ouve-se repetidamente, dos timoneiros da oposição maranhense, que o ciclo de domínio político do clã Sarney está no fim. Quando os votos são contabilizados, mais uma vez, o Grupo elegeu, nas disputas majoritárias, a ampla maioria dos prefeitos municipais, todos os Senadores da República e o Governador do Estado. Registre-se, que para os dois últimos cargos a regra “natural” foi quebrada apenas no escrutínio de 1990, cujo vitorioso ao Senado foi Epitácio Cafeteira, não alinhado, à época, com a oligarquia Sarney, e em 2006, na disputa ao Governo Estadual vencida por Jackson Lago. Na eleição proporcional para os parlamentos estadual e federal, em média, 85% das vagas ficaram para os integrantes dos Partidos governistas. Aqui, o processo assemelha-se a uma “política de cotas”: quase sempre, a autêntica bancada oposicionista maranhense não passa de 4 ou 5 Deputados Estaduais e de 2 ou 3 Deputados Federais.

Na realidade, o travo político-eleitoral maior dos Sarneys, no período pós-ditadura militar, é a peleja para o Governo do Estado. Por conta disso, a cada eleição estadual, eles maquinam um novo e variado repertório de estripulias, alianças políticas esdrúxulas, fraudes eleitorais e corrupção administrativa.

Deste modo foi em 1986, quando o então Presidente José Sarney, num surpreendente acordo político com o PMDB, presidido pelo saudoso Ulisses Guimarães, converteu a principal expressão eleitoral da oposição maranhense, Epitácio Cafeteira, em candidato governista.

No pleito seguinte, em 1990, no apagar das luzes e para evitar uma derrota eleitoral iminente para o ex-aliado João Castelo, o Grupo trocou de candidato. O Senador Edison Lobão substituiu, na disputa ao Governo do Estado, a cambaleante candidatura do Deputado Federal Sarney Filho. A eleição foi decidida favoravelmente, no segundo turno, com um leque de curiosidades dignas de destaque: registro em cartório, pelo candidato Edison Lobão, da proposta de governo e participação de autoridade da Justiça Eleitoral em passeata da candidatura governista, isso sem falar do insólito engajamento do Governador João Alberto na campanha eleitoral.

Já na contenda de 1994, o grupo Sarney, que em nível nacional passou a compor bloco político de apoio à candidatura de FHC à Presidência da República, alcançou, pelo menos oficialmente, com a Deputada Federal Roseana Sarney, no segundo turno, uma vitória eleitoral apertada ao Governo estadual. Neste pleito, o vale-tudo da candidatura governista foi a tônica da campanha eleitoral. Destacam-se: o corte, pelo sistema de comunicação do Grupo, do sinal da Embratel, para bloquear a divulgação de pesquisa eleitoral que lhes era desfavorável; a campanha agressiva de criminalização do candidato oposicionista, Epitácio Cafeteira (Caso Reis Pacheco) e a apuração à conta-gotas das urnas, provocando atrasos injustificados na divulgação do resultado final da eleição para Governador do Estado. Aliás, como se sabe, é voz corrente na oposição maranhense, que a verdade eleitoral foi outra: a derrota da “Branca” por uma diferença próxima de 70 mil votos.

Nas eleições de 2002, o Senador José Sarney, embebecido pelo brilho estrelar, e àquela altura irrefreável, da candidatura de Lula à Presidência da República, abandonou a nau peessedebista, para se transformar, em breve tempo após a vitória do petista, em um dos seus chegados prediletos. No Estado, o candidato oficial, José Reinaldo, venceu, por uma pequena margem de votos, no primeiro turno da eleição. Apregoou, entre outras pérolas, a “reinvenção” da administração pública estadual. A vitória eleitoral reinaldista contou também com a benigna contribuição do campo oposicionista, pois a altiva, porém extemporânea, desistência do candidato Roberto Rocha e a camaleônica candidatura majoritária petista, foram decisivas para a não realização do segundo turno da eleição ao Governo do Estado.

Em 2006, na primeira disputa do grupo Sarney ao Governo do Estado, desprovida do seu cabo eleitoral fundamental, a máquina pública estadual, a candidata Roseana Sarney foi derrotada, no segundo turno, pelo Ex-Prefeito de São Luís Jackson Lago. Na refrega, nem o ostensivo apoio de parte do PT do Maranhão e do Presidente Lula impediram o fracasso provisório dos Sarneys. O revés eleitoral durou pouco mais de dois anos. A Justiça Eleitoral restabeleceu a antiga ordem, sob o argumento de abuso, pelo candidato vencedor, de “poder econômico e político”.

Em 2010, o rosário criativo de falcatruas do Grupo passou a ter, definitivamente, na linha de frente, um importante esteio eleitoral: o Presidente Lula. Agora unha e carne do “imortal” Senador José Sarney, arquitetou a capitulação definitiva do PT maranhense aos interesses provincianos do Grupo. No toma lá da cá de favores escusos, Lula exigiu o incondicional apoio petista à reeleição da Governadora Roseana Sarney. Na busca de uma vitória consagradora da filha do santificado, apostou também no isolamento das candidaturas de centro-esquerda.

A repugnante engenharia política, simbolizada pela rendição oficial do PT estadual e pela enxurrada de intervenções patéticas de Lula, Dilma e outras lideranças do Partido no programa eleitoral de Roseana, contou, ainda, com o reforço eleitoral infalível dos milhões gastos com os “convênios bissextos” – aqueles acordos estaduais firmados de quatro em quatro anos com o objetivo de irrigar o caixa dos aliados municipais –, celebrados e liberados religiosamente às vésperas dos festejos de São Pedro, no limite do prazo legal. Mesmo assim, a vitória no primeiro turno foi por uma ínfima e questionável diferença de votos.

Pelo desenrolar dos fatos, estão delineados, para disputa majoritária de 2014, os conservadores traços da macro política maranhense. O principal protagonista nacional, o “governo petista de coalizão”, que aceita e apoia todo e qualquer grupo ou pessoa, desde que tenha lastro eleitoral e seja da malfadada “base aliada”, certamente repetirá, em detrimento do candidato de centro-esquerda, Flávio Dino, a “exitosa” aliança do pleito anterior. Desta forma, danem-se as forças políticas progressistas do Maranhão, mesmo aliadas, contrárias às determinações da bula petista.

Assim, aguardem maranhenses, as aparições maquiadas das lideranças nacionais do PT nos programas eleitorais de Luís Fernando ou de Edison Lobão, a recorrente discurseira do Maranhão, como “estado do futuro”, o “progresso está chegando”, “mais emprego para o povo”, “os corvos desesperançados não gostam de nossa terra”... blá, blá, blá.

Que azia.

 Salvador Fernandes é Economista, Servidor Público Federal e Ex-Presidente Estadual do PT/MA.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Camuflagem Petista

Por Salvador Fernandes
A notícia da visita do ex-presidente Lula à residência do deputado federal Paulo Maluf (PP/SP) corre o Brasil afora. Motivo do rasga seda: fechar um acordo político-eleitoral com vista a turbinar a cambaleante pré-candidatura do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, à Prefeitura da cidade de São Paulo. Diferentes são as opiniões e atitudes relacionadas ao caso. No ato derradeiro, provocou, inclusive, a desistência da ex-prefeita Luiza Erundina de ocupar a vaga de vice na chapa petista. Se muitos brasileiros se sentem surpresos, indignados e traídos, o que dizer de nós, cidadãos maranhenses, que carregamos sobre os ombros as consequências da “moderna democracia” petista, simbolizada na máxima da eterna gratidão aos favores sarneístas.

Repete-se a cantilena das lideranças hegemônicas nacionais petistas, agora com o reforço do pré-candidato Haddad: “estamos buscando alianças eleitorais com os partidos da base de apoio ao Governo Dilma. Nada de estranho, afinal o Partido Progressista (PP) faz parte da coalizão governista desde 2004”. Sob esta “inovadora” ótica política, uma parcela dos membros do PT - de alta e baixa patentes - vai firmando, nas grandes, médias e pequenas municipalidades acordos eleitorais esdrúxulos, à exemplo da capital maranhense, inclusive com as siglas notadamente oposicionistas - PSDB, PPS e DEM. Todos, em outras épocas, seriam tratados como heresias e não passariam pelo crivo de qualquer uma das instâncias partidárias petistas.

Argumentam ainda que o País mudou, portanto o PT precisa ser renovado. Com isso, no arraial petista, vive-se o frisson do dividendo eleitoral. O programático deu lugar ao pragmático. Nessa nova quermesse estrelada, atraem-se “noviços empreendedores políticos”, alguns por aguçado senso de conveniência, outros, entre eles veteranos da militância política, por puro e rasteiro oportunismo.
No Maranhão, como em outras praças, assiste-se, entre os petistas, a uma frenética busca de parceiros eleitorais. Deslizes relacionados à probidade administrativa, à sonegação e à responsabilidade fiscal, ao crime organizado, à agiotagem com dinheiro público, ao enriquecimento ilícito, entre outros tantos - mazelas comuns à boa parte dos grupos políticos locais - não são, na maioria das situações, impedimentos para um acordo eleitoral.

Antes, nas formulações estruturais petistas, as sucessivas crises institucionais no Brasil teriam sido ocasionadas, em parte, pela ausência de partidos políticos nacionais consistentes. Nesses cenários - que persistem - diziam que as lideranças oligárquicas regionais, por terem o controle das siglas partidárias, transformavam-se nos principais interlocutores políticos junto aos Poderes da República. Assim, esses “monarcas dos sertões” priorizavam, e faziam valer os seus interesses escusos, tanto no tabuleiro político regional quanto no nacional.

No governo petista, a força política dos senhores oligarcas não sofreu qualquer abalo. Porém, tentam, de forma desvelada, convencer a sociedade de que a construção das relações institucionais ocorre sob a supremacia das direções partidárias componentes da base aliada. Na verdade, tais tentativas camuflam as relações políticas personificadas - das quais são reféns. No caso, querem fazer acreditar que nomes conservadores e arcaicos da política brasileira, como José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho e Paulo Maluf, entre outros, seriam meros coadjuvantes na manutenção da governabilidade e na definição dos acordos políticos e eleitorais. Pior: sem titubear, vangloriam-se que governam com a maior “aliança partidária” da historia republicana brasileira.

Isto posto, e sem a prometida reforma político-partidária, dá para acreditar nessa “reinvenção” petista da política nacional?


Salvador Fernandes  é economista , servidor público federal  e ex-Presidente Estadual do PT/MA

quarta-feira, 14 de março de 2012

A metamorfose ambulante de parte da esquerda maranhense

 Por Salvador Fernandes*


Salvador Fernandes é ex-presidente do Diretório Estadual do PT
Há dias, um amigo de longas datas, antigo militante petista de primeira hora, telefonou-me para falar, com um ar de surpresa, que, nas vezes em que se dirigiu à sede da direção municipal do Partido para quitar as suas obrigações financeiras com a legenda, no intuito de participar da peleja que irá indicar o futuro candidato do PT à prefeitura de São Luís, sempre a encontrou de portas fechadas. Sabe, embora não queira acreditar, que é o vale tudo promovido pelos controladores da sigla partidária para a manutenção, no plano municipal, da linha política adesista à oligarquia Sarney. Com certeza, causa-lhe náuseas, mesmo resistindo ao vômito, participar de embates políticos com mercadores que enlameiam e ferem de morte, há um bom tempo, a trajetória daquele Partido, que dentre outras tantas virtudes,  notabilizou-se pelo exercício da democracia interna e o respeito às diferenças. Este legado que empolgou mentes e corações de múltiplos segmentos sociais e engajou dezenas de milhares de homens e mulheres na construção de um novo  Partido de Esquerda, que se propunha a romper radicalmente com a  tradição  autoritária e personalista das varias organizações da esquerda brasileira.

Tempos atrás, nas concorridas discussões dos fóruns petistas, sejam partidários ou sindicais, era comum muito militante utilizar-se da letra e música do saudoso Raul Seixas –  “Metamorfose Ambulante” - para repugnar concepções e práticas que tivessem alguma relação com a matriz ideológica da esquerda tradicional. Era a satanização de todas as organizações com raízes históricas no Marxismo. Para  surpresa dos desavisados, estes  homens e mulheres, travestidos de nova esquerda, estavam, na verdade, trilhando pelo caminho do conservadorismo político, pondo em prática com afinco as bulas das manobras partidárias, comum às agremiações da elite nacional. 
Aqui, entre estes controladores de plantão, como noutros rincões brasileiros, o oportunismo partidário petista campeia. Trazem na ponta da língua as motivações e respostas para tanto. São os ventríloquos do dito “projeto nacional petista”.  Em nome desse embuste, tudo é permitido. O resto é “perseguição política” de derrotado. O patrimonialismo petista se alastra como erva daninha. Virou prática corriqueira, entre a maioria daqueles que ocupa um naco do Estado loteado, em nome da sigla partidária. A linha divisória entre tradição política brasileira e a maioria dos protagonistas petistas é a voracidade de acumular riqueza em tempo mais curto. A exemplificação é de fácil identificação em nível local e nacional. Uns recebem “Bolsa” para não pesquisar o objeto; outros se locupletam de “Consultorias” sem objeto. Na verdade, tem-se uma inversão de valores. No plano nacional, muitos petistas estão sendo moldados pelos aliados conservadores, enquanto que na província a sigla tornou-se apenas o sócio menor de uma oligarquia corrupta e decadente.
Noutra ponta, assiste-se à via crúcis  de militantes históricos do PDT maranhense, inclusive recorrendo às instâncias judiciais, na tentativa de preservar os ideais de luta e resistência pautada no trabalhismo getulista, que para maioria que controla a máquina partidária é viver agarrado a um passado que não rende voto, e muito menos negócios. O pior, com anuência do comando nacional pedetista. No caso, é como se entregar cheque em branco a estelionatário. 
Assim, para esses timoneiros políticos de “esquerda”, qual seria a ofensa intelectual em afirmar a pertinência desta máxima do senso comum: “Todo político é igual”.

Salvador Fernandes*
Economista 
Servidor Federal
Ex-Presidente Estadual do PT/MA.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Começo de século, fim de linha


Por Salvador Fernandes*

O recente e inesperado falecimento do Governador Jackson Lago, militante político cuja trajetória foi marcada pela intransigente defesa da democracia e das causas populares, significa o perecimento do principal ícone do centro-esquerda maranhense no período pós ditadura militar. Tal liderança foi comprovada nos três mandatos de Prefeito de São Luís e um de Governador do Estado.


Foi-se o Doutor Jackson. E agora, quem o substituirá no comando da oposição maranhense? Os nomes mais badalados são: João Castelo, Roberto Rocha, Flávio Dino e Bira do Pindaré.


Sobre os dois primeiros, João Castelo e Roberto Rocha, – estuários de aglutinação de parcelas das forças conservadoras de oposição da política maranhense – comenta-se que estariam buscando uma reaproximação com a Oligarquia Sarney. Por outro lado, eles têm pouco ou nenhum trânsito com quase a totalidade da esquerda maranhense, hoje orbitando na constelação flavista e birista.


Flávio Dino vive o dilema de repetir, em 2012, a candidatura de Prefeito da Capital ou se "preservar" para uma nova disputa eleitoral majoritária para 2014. Os adeptos desta última concepção argumentam que o campo democrático-popular precisa ”acumular forças” com vistas ao macro enfrentamento, em 2014, com os Sarneys. Dizem que uma candidatura de Flávio Dino em 2012 propiciaria a junção odienta dos sarneysistas e castelistas. No caso, afirmam também, que uma terceira derrota numa disputa majoritária inviabilizaria a candidatura do Flávio Dino ao Governo do Estado em 2014. Esquecem que um fracasso, no complexo cenário a ser montado em 2014, pode representar o fim, nos embates majoritários, de uma emergente liderança política.


O último, Bira do Pindaré, eleito Deputado Estadual com uma expressiva votação em São Luís, enfrenta outro impasse: é membro de um agrupamento político marginal nos planos local e nacional da composição petista. Deste modo, dificilmente terá uma carta de anuência dos neosarneysistas que controlam a sigla partidária no Maranhão para ser candidato a Prefeito de São Luís. Caso aconteça, poderá ser barrado, a pedido do próprio José Sarney, pelo comando nacional do PT.


Sob a ótica popular, o mais grave neste tabuleiro político é que os expoentes Flávio Dino e Bira do Pindaré, ativistas políticos e filiados a partidos de esquerda desde a juventude, têm em comum contra si a indisposição da Direção Nacional do PT. Na atual conjuntura, qualquer movimento de ambos que contrarie os interesses da Oligarquia no Maranhão terá a reprovação de Lula e Zé Dirceu e, por tabela, do PT nacional e do Governo Dilma.


No espectro partidário, o adesismo à Oligarquia amplia-se entre as maiores agremiações oposicionistas, sejam de direita, centro ou de esquerda. No PSDB, pelas últimas notícias, há uma ambiência de distensão capitaneada por Roberto Rocha, João Castelo e Sebastião Madeira. O PT há tempo já faz parte da cesta partidária dos Sarneys, e inclusive indicou o Vice-Governador na chapa majoritária de 2010. Os que resistem a esta sucumbência política, estão convidados a procurar novos rumos. No PDT, a senha adesista veio com o posicionamento de parte da bancada estadual favorável à candidatura governamental na eleição para Mesa Diretora da Assembleia Legislativa e à debandada de alguns Prefeitos para a base governista. No PSB e PCdoB as defecções foram menores, mas suficientes para contribuir, em 2010, com a não realização do segundo turno da eleição para Governador do Estado.


O certo é que o desenho da disputa político-eleitoral de 2010 dificilmente se repetirá em 2014. Afinal, com o falecimento do Governador Jackson Lago, provavelmente não se terá duas candidaturas de oposição – originárias do setor democrático-popular e com forte apelo eleitoral – ao Governo do Estado. Aliás, a derrota político-eleitoral da oposição em 2010 foi determinada pela maquiavélica cassação do Governador Jackson Lago, arquitetada nos gabinetes palacianos de Brasília, e pela truculenta intervenção da Direção Nacional do PT, para alterar a democrática decisão do Encontro Estadual do braço maranhense do partido de apoiar a candidatura de Flávio Dino ao Governo do Estado. Essas negociatas foram decisivas para garantir o continuísmo do domínio oligárquico no Maranhão.


Salvador Fernandes é Economista, Servidor Público Federal e Ex-Presidente Estadual do PT/MA