A Controladoria-Geral da União concluiu ontem o processo
administrativo e declarou a Delta Construções como inidônea. Na prática,
a pivô da CPI do Cachoeira fica proibida de participar de licitações e
obter novos contratos com a administração pública. A portaria, assinada
pelo ministro Jorge Hage, será publicada no Diário Oficial da União de
hoje.
O processo começou em abril, com base em um relatório da
CGU sobre um contrato entre a Delta e o Departamento Nacional de
Infraestrutura e Transporte (Dnit), investigado pela Operação Mão
Branca, realizada em conjunto com a Polícia Federal e o Ministério
Público. A operação constatou que a empresa pagou servidores
responsáveis pela fiscalização do contrato com aluguel de carros, pneus,
passagens aéreas, diárias em hotéis, refeições e dinheiro.
O
relatório aponta que a Delta "violou princípio basilar da moralidade
administrativa ao conceder vantagens injustificadas (propinas) a
servidores do Dnit no Ceará". A CGU informou em nota que o fato de terem
cinco servidores envolvidos e o pagamento de propina ter durado três
anos revela um sistema contínuo de delitos que teria tornado "inevitável
a aplicação da pena de inidoneidade".
Na defesa apresentada pela
Delta à CGU, a empresa alegou que os valores pagos seriam para custear a
fiscalização das obras. Mas a operação chegou a flagrar conversas entre
o engenheiro responsável pela obra pedindo um carro deixando dando a
entender que o usaria para passear no fim de semana.
Os pneus
comprados foram transportados pela mulher de um dos servidores
envolvidos no esquema e, apesar de a obra ser no Ceará, foram
identificadas passagens aéreas e diárias pagas em Brasília, Recife e São
Paulo. "Entendo que restou plenamente demonstrada a prática de atos
ilícitos materializados no pagamento de diversas vantagens e benefícios
indevidos, caracterizados como propinas, atentando contra a necessária
idoneidade da referida empresa para contratações públicas", afirmou
Hage, em sua decisão.
Procurada pelo Correio, a Delta informou
pela assessoria que só vai se manifestar depois que tiver conhecimento
de todo o teor da decisão. O Dnit informou que só irá comentar o caso
depois que a portaria for publicada no Diário Oficial. Com a decretação
de inidoneidade, a empresa fica proibida de contratar com a
administração pública por pelo menos dois anos. Passado esse prazo, a
empresa é reavaliada.
Investigações
Apesar de a decisão ter
sido tomada com base apenas na Operação Mão Branca, a Delta é a empresa
pivô da CPI do Cachoeira e foi alvo de outras investigações da Polícia
Federal, como a Saint-Michel e a Monte Carlo. O bicheiro Carlinhos
Cachoeira é apontado como sócio oculto da empresa e gravações revelam
proximidade com o ex-diretor da Delta Centro Oeste Cláudio Abreu. A
Delta também é suspeita de fazer repasses a empresas fantasmas de
Cachoeira.
O processo na CGU foi aberto depois de uma reunião
entre o ministro Jorge Hage e a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
Mesmo com a declaração de inidoneidade, não há uma orientação da Casa
Civil de romper os contratos que já foram fechados. Caberá a cada gestor
avaliar a situação e decidir se é melhor concluir as obras com a Delta
ou procurar os segundos colocados nas licitações.
2 anosTempo que a Delta fica proibida de assinar contratos com a União, conforme a decisão da CGU
Fonte: Correio Brasiliense