Umbelino Ribeiro em seu discurso de posse |
A redação
A cidade de Turiaçu, que fica localizada a 475 km da capital, bateu um triste recorde nos últimos anos. E, infelizmente, não foi dos melhores. Passaram pelo Poder Executivo os piores prefeitos da História Política recente do Maranhão.
Junte-se os ex-prefeitos Riba Rabelo, Umbelino Ribeiro e Costinha e imagine como eles deixaram a cidade. Uma verdadeira terra arrasada. Sem exagero algum, com aspecto de cemitério. Um visitante resumiu bem o quadro caótico: "pelo estado de abandono, a cidade parece mesmo um lixão a céu aberto".
Localização de Turiaçu-MA |
Presenteado por Deus com belezas naturais incomparáveis e o abacaxi mais doce do planeta, Turiaçu precisa urgentemente de um gestor público que não maltrate o povo. Até tentou, elegendo Costinha (PT) e defenestrando Umbelino Ribeiro (PV).
No entanto, como Costinha fez uma péssima administração e traiu todo o seu discurso histórico de mudanças, a população só teve uma alternativa: reconduzir novamente Umbelino Ribeiro à prefeitura. E o abacaxi pode deixar de ser doce.
Orgias em Turiaçu
Sobre Umbelino, o saudoso jornalista Walter Rodrigues escreveu um texto muito apropriado sobre suas "aventuras":
Prefeitos desonestos e bandalhos do interior do Maranhão já tem seu símbolo, seu campeão, seu primus inter pares.
Walter Rodrigues denunciou as orgias de Umbelino |
É Joaquim Umbelino Ribeiro, de Turiaçu, que recentemente se deixou filmar numa orgia com o presidente da Câmara, Benedito Alves, e outros correligionários e apaniguados. As cenas são repugnantes.
Graças a Umbelino e seus comparsas, que em 2005 ganhou as manchetes como palco de raro e mortífero ataque de morcegos hematófagos, passa agora a ser conhecida também por abrigar a sem-vergonhice política mais explícita de que já se ouviu falar.
Daqui a pouco o leitor verá o vídeo que documenta uma das farras que o prefeito costuma promover nas raras ocasiões em que aparece na cidade, geralmente uma vez por mês. Prepare o estômago para encarar um espetáculo repulsivo.
São cerca de 30 pessoas, homens na grande maioria, reunidas na sala e na varanda de uma casa pequena, portas e janelas escancaradas, diante do cais da cidade. Ali perto há um bar em que prováveis pescadores miram a cena com cara de desgosto. Eles sabem que é o dinheiro do povo que sustenta a pequena Sodoma de Umbelino.
Apenas cinco dos 30 festeiros são mulheres, umas jovens, talvez adolescentes, outras adultas, mas essas são pouco mais que expectadoras. Uma das adultas, uma negra de óculos, seria deficiente mental.
Umbelino é o centro das atenções, a começar pela atenção de quem filma a festa, com o conhecimento de todos. Durante quase o tempo todo da gravação, a câmera mostra o prefeito beijando a cabeça, o rosto e até a boca de outros homens, mordendo o peito de um e as costas de outro, apalpando e passando a mão nos colegas, ora agarrando por trás, ora sendo agarrado pelos cupinchas.
Um homem magro e afeminado é o mais requerido. Rebolando muito, dança colado com o prefeito, o presidente da Câmara e vários dos cinco ou mais vereadores presentes — a Câmara toda são nove. Enquanto ele gira com seu par, outros presentes lhe passam a mão.
Quando senta no colo do prefeito, Umbelino se entusiasma e morde-lhe as costas com tanto ardor que o pobre sai gritando.
Esse pobre coitado, espécie de Geni da confraria, ainda é um dos poucos que algumas vezes reclama dos exageros. A maioria dos varões presentes parece achar muito engraçado quando alguém o aborda pela retaguarda. Os mais tímidos são excitados pelos mais afoitos, capitaneados pelo prefeito.
Quase ninguém dá atenção às mulheres presentes. O próprio Umbelino, que carrega e bolina a negra de óculos e dança um pouquinho com uma jovem e com a suposta dona da casa, demora pouco nessas investidas. O negócio dele é beber, fazer cara de louco ou de tarado e se esfregar com a corriola.
Num certo momento, o prefeito alisa demoradamente a cabeça de um rapaz e dá a impressão de que o beijou na boca, protegido pelo chapéu. Em seguida mostra a língua convulsa e faz um gesto obsceno com três dedos, exibindo-se para a filmagem.
A promiscuidade se completa quando os famintos atacam dois pratos de peixe em que um come e cospe e outros continuam comendo. Ninguém reclama. Assim como ninguém estranha quando um enfia a língua na orelha de outro e Umbelino porfia com Benedito, o presidente da Câmara, para saber qual deles atraca no posterior do outro.
Ouve-se o foguetório característico das “comemorações” do prefeito, que adora azucrinar a cidade de dia ou de noite com sua exibição de poder.
A música ambiente vai de sambas e canções de outrora. “Quem era eu, quem eras tu, quem somos agora…”, coisas assim. E também uma novidade, o “Melô da Samira”, ou que outro nome lhe tenham dado.
Samira Mercês dos Santos é a promotora da comarca. Cansada de saber dessas orgias e arruaças, e de toda sorte de outros cometimentos, há muito ela busca um meio de expulsar Umbelino do cargo. Nesse afã, chegou até a cometer arbitrariedades, devidamente criticadas neste Colunão, mas já agora reiluminadas pelas exteriorizações do prefeito.
Certo que uma coisa não justifica a outra. Mesmo um devasso exibicionista, obviamente peculatário — pois não será o erário que ele respeita — tem direito ao devido processo legal e demais garantias constitucionais. Mas fica difícil não ser indulgente com exageros que em última análise visavam livrar os 30 mil habitantes de Turiaçu de uma gestão simplesmente imoral, nos vários sentidos do termo.
Tramita neste instante uma ação de improbidade contra Umbelino, movida pelo Ministério Público. Daí a represália em forma de trocadilho que sai do toca-CD e que o bando alegre entoa às gargalhadas:
“Eu ganhei uma espingarda
foi uma vergonha sim
o tiro saiu à toa
essa mira não é boa
essa mira é ruim
vá pra puta que pariu.”
Mais adiante um dos presentes grita uma ameaça pornográfica contra Samira e contra o juiz Luís Carlos Pereira, que os tem incomodado também: “Eu vou comer…”.
Para completar, Umbelino é chegado a uma violência. Antes de ver um compacto das imagens gravadas, saiba que seus correligionários agrediram recentemente dois funcionários da Promotoria que fotografavam mais uma de suas irregularidades, a distribuição de gasolina para quem quisesse engrossar uma carreata chefiada pelo prefeito.
Não satisfeitos, os umbelinos sitiaram o Fórum da cidade e ameaçaram invadi-lo. Foi preciso que o promotor de Santa Helena, Emanoel Netto Guterres Soares, que responde interinamente pela comarca de Turiaçu, chamasse a Polícia da capital para restabelecer a ordem e conter os arruaceiros. O incidente está sendo apurado em inquérito.
Difícil antecipar o futuro de Umbelino, após o vazamento das imagens da que pode ter sido sua última festa custeada pelos munícipes. A única certeza é que não pode continuar no cargo, sob pena de desmoralizar uma comunidade inteira. Diga-se o mesmo do presidente da Câmara e dos outros mandatários sibaritas flagrados na esfregação.
Uma solução simples seria o impeachment, a cassação de Umbelino e Benedito por falta de decoro. Acontece que eles têm maioria não só na Câmara como na farra e nunca se soube que um porco comesse outro. Só a Justiça pode resolver o impasse, seja ordenando a intervenção do estado no município, seja apenas cassando os mandatos do prefeito e caterva, se é que os suplentes não estavam na festa também.
Umbelino foi eleito em 2004 pelo PDT, o Partido Democrático Trabalhista do governador Jackson Lago. Atualmente está no PV (Partido Verde) e tem como líder político o deputado Raimundo Cutrim, do Democratas (DEM). De trabalhista, verde ou democrata não tem nada, nem é o caso de atribuir aos partidos a responsabilidade por seus desmandos. Mas isso até aqui. Daqui para a frente, espera-se que o PV o declare incompatível com o meio ambiente e trate logo de descartá-lo como veneno perigoso. E que ninguém se mexa para tentar salvar o irrecuperável.