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domingo, 14 de abril de 2019

Senso comum e justificação da desigualdade



A-Que pergunta o texto busca responder?

“quem nós somos”,“como devemos agir”, “o que caracteriza uma sociedade justa” ou, o que perpassa todas essas questões, “o que singulariza os brasileiros de outros povos”?


B-Qual a tese central?

É por meio do senso comum que conhecimentos pragmáticos e falsas ideologias de interpretação da realidade legitimam o mundo como ele existe.
-O que assegura, portanto, a “justiça” e a legitimidade do privilégio moderno é o fato de que ele seja percebido como conquista e esforço individual. Nesse sentido, podemos falar que a ideologia
principal do mundo moderno é a “meritocracia”, ou seja, a ilusão, ainda que seja uma ilusão bem fundamentada na propaganda e na indústria cultural, de que os privilégios modernos são “justos”.



C- Que argumentos sustentam a tese?

O ponto principal para que essa ideologia funcione é conseguir separar o indivíduo da sociedade.

É também o mesmo fato que faz com que todo o processo familiar, privado, invisível e silencioso, que incute no pequeno privilegiado as predisposições e a “economia moral” que leva ao sucesso (disciplina, autocontrole, habilidades sociais etc.), possa ser “esquecido”.



Como, no entanto, o social, também nesse caso, é desvinculado do individual, o indivíduo fracassado não é discriminado e humilhado cotidianamente como mero “azarado”, mas como alguém que, por preguiça, inépcia ou maldade, por “culpa”, portanto, “escolheu” o fracasso.

Ao contrário, as famílias de uma mesma classe social ensinam coisas muito semelhantes aos filhos,
e é isso que explica que esses filhos de uma mesma classe encontrem amigos, namorados e, depois, esposas e maridos da mesma classe e comecem todo o processo de novo.

A “endogenia de classe”, ou seja, o fato de as pessoas, em esmagadora maioria, se casarem dentro de uma mesma classe, mostra, de modo claro e insofismável, que as famílias reproduzem, na verdade, valores de uma classe social específica.

A competição social quanto no desafio de levar uma vida com sentido, que é a “autoconfiança”. A “autoconfiança”, como nos ensina o pensador alemão Axel Honneth,é aquele elemento que confere a quem o possui, pelo simples fato de ter sido amado, a certeza do próprio valor, certeza essa
que permite encarar derrotas e perdas com confiança e esperança.

No caso brasileiro, a justificação da desigualdade pelo “esquecimento” do pertencimento de classe e, portanto, da gênese social das diferenças individuais que aparecem como atributo (miraculoso) do mérito individual é mil vezes potencializada por uma aliança invisível com o mito da brasilidade.

O “imaginário brasileiro” e seu horror ao conflito é tão conservador de situações fáticas de dominação injusta quanto a ilusão da “meritocracia”, ou seja, a “ideologia espontânea” do mundo moderno

Para Hegel é o conflito, a luta entre necessidades, interesses ou ideias contraditórias que faz com que o indivíduo possa adquirir e formar uma personalidade própria e singular. É o conflito também que faz com que toda uma sociedade possa perceber e criticar os consensos perversos e desumanos que a perpassam e influenciam a sua história. Sem explicitar conflitos, tanto um indivíduo quanto uma sociedade estão condenados a repetir cegamente convenções e ideologias.

Mas isso significa uma condenação para a eternidade? Não. Tudo que foi feito pelo homem pode ser desfeito por ele. Começar a perceber as contradições e os conflitos por baixo da superfície de
harmonia e de unidade é sempre o melhor caminho para qualquer novo aprendizado.

Por Welliton Resende
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A construção do mito da brasilidade

Dissecando Jessé Souza


A-Que pergunta o texto procura responder?

-Por que o Brasil se percebe como “mercado” e os países desenvolvidos se percebem como “sociedade”?

B-Qual a tese central do texto?

-DNA coletivo baseado na nossa história

C-Que argumentos sustentam a tese?

Arrumar uma tábua de salvação para um país recém-autônomo (1822), composto em sua imensa maioria de escravos, homens livres incultos/analfabetos acostumados a obedecer e não a serem livres.

O tema da natureza foi o primeiro. Recorrente no decorrer do século 19 na prosa, na poesia, na construção de nossa literatura e nas imagens de grandeza do grande “país do futuro”, “deitado em berço esplêndido”, apenas esperando para ser acordado e cumprir seu grande destino dentre os grandes povos da terra.

O tema “imagem positiva” para um “povo de mestiços” foi o segundo. Durante todo o século 19 e até a década de 1920, o paradoxo da identidade nacional brasileira vai ser materializado, precisamente, com base na impossibilidade, num contexto histórico em que o racismo possui “prestígio científico” internacional, de se construir uma “imagem positiva” para um “povo de mestiços”. Foi a  “virada culturalista” levada a cabo por Gilberto Freyre com a publicação de Casa-grande & senzala em 1933.

Tiro no pé. O nosso mito da cordialidade é a aversão a toda forma de explicitação de conflito e de crítica.  Por conta disso nosso debate acadêmico e político é tão pobre e tão pouco crítico. A aversão ao conflito é o núcleo de nossa “identidade nacional”, na medida em que penetrou a alma de cada um de nós de modo afetivo e incondicional.


Por Welliton Resende
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