Discurso proferido em Sessão Solene da Assembléia Legislativa do Maranhão
Deputado Wellington do Curso, Welliton Resende (CGU), deputado César Pires. |
(1) Senhor
Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, membros da imprensa, internautas, convidados,
utilizo, na manhã de hoje, este espaço para agradecer a honraria a mim
concedida. Neste pequeno pronunciamento,
não poderia deixar de agradecer ao jovem deputado Wellington do Curso pela
proposição.
(2)Receber a
mais elevada comenda do meu querido e estimado Estado, a Medalha do Mérito
Legislativo ‘Manuel Beckman’, e no prédio que abriga esta Casa Legislativa cujo
nome também faz homenagem a este grande homem, que foi Manuel Beckman, é sem dúvida alguma o momento mais marcante de
toda a minha carreira de auditor.
(3)Senhoras e senhores, é verossímil que a corrupção é um problema crônico e
que o seu surgimento está intimamente
relacionado à criação das primeiras civilizações. Porém é fato que essa prática
foi intensificada após o surgimento do capitalismo, sistema econômico que
proporciona maiores desigualdades e fortalece a ideia de quanto mais, melhor.
(4)No século XVI, as caravanas portuguesas desembarcaram
em terras até então desconhecidas pelos europeus, mas muito bem habitadas por
índios. De acordo com historiadores, a corrupção começa a datar quando os
funcionários públicos da Coroa Portuguesa faziam vista grossa aos produtos
naturais que eram comercializados de forma ilegal, como o pau-Brasil.
(5)No período escravocrata brasileiro (1530 a
1888), que perdurou mesmo após a proibição do comércio de negros pela Lei
Eusébio de Queiroz (1850), a entrada de
africanos escravos continuou em vigor acobertada por
senhores de terras.
(6)Paradoxalmente, em 1888, com a abolição da
escravatura, o comércio de escravos persistiu, através de subornos e propinas.
Em suma, a corrupção esteve em nossa gênese à todo o momento, da independência
a instauração da República. Passando pelo voto de cabresto, pelo golpe de
Getúlio Vargas e a instalação de sua ditadura.
(7)No Maranhão, a
primeira referência ao tema corrupção foi proferida pelo Padre Antonio Vieira,
em 1654, em seu célebre “Sermão aos peixes”. Por meio de sátira Vieira, em sua
pregação, denunciou a disputa entre os colonizadores portugueses que estavam no
Brasil e os moradores locais. O padre proferia o discurso fazendo comparações
entre os vícios dos colonos com os tipos de peixes, como o polvo, o voador, o
pegador e o roncador.
(8)O historiador Mário Meirelles
(1970) deixou claro que no período
colonial a vida no Maranhão era algo
difícil, precário e miserável. As razões para isso eram muitas. Primeiro, era
uma ambiência pontuada de “lutas mesquinhas”, com o predomínio da corrupção, do
suborno e até do assassinato, comprometendo substancialmente a gestão
promissora dos negócios públicos. Meirelles (1970) afirmou que uma das razões
para a irrupção da Revolta de Beckamn (1684) foi o fato de o governador do
Maranhão à época, Francisco de Sá de Meneses,
ser um homem de índole reprovável, que agia sempre de maneira contrária
aos interesses dos colonos, praticando suborno, enriquecimento ilícito, não
cumprindo todas as atribuições devidas ou não as executando a contento.
(9)Havia roubo nos pesos e nas
medidas, a venda de produtos de péssima qualidade, taxações abusivas e o não
cumprimento das obrigações contratuais referentes aos fornecimentos de
escravos. Portanto, a corrupção teria sido uma das causas dessa revolta
nativista e Manuel Beckman um dos seus grandes contestadores.
(10)Conforme relato do jornalista Ed Wilson (2014),
em artigo intitulado Água na política de
Ana Jansen a Ricardo Murad, a pré-História do abastecimento de água em São
Luís é contada em fatos e lendas. Uma das mais conhecidas diz respeito à
poderosa Ana Jansen (1787-1869), a Rainha do Maranhão, detentora do monopólio
da água no século XIX. Ana Jansen vendia água em carroças puxadas a burro, um
lucrativo negócio tocado por um exército de escravos que transportavam o
líquido pelas ruas de São Luís. Por volta de 1850, o governo da Província
autorizou a criação da Companhia de Águas do Rio Anil.
(11)Famosa pelas perversidades contra os
adversários, ela teria mandado colocar gatos mortos e apodrecidos nos depósitos
da Companhia, espalhando a notícia da contaminação na água do concorrente.
Segundo Ed Wilson a sabotagem funcionou e a empresa
concorrente faliu. Sob as auspicias de tal episódio, teria nascido doravante a
concorrência desleal no Maranhão.
(12)A corrupção
definida como o meio de burlar os mecanismos de controle, dentro da
administração pública, apresenta nuanças
que diferem em muito, das práticas adotadas pelo setor privado como, por
exemplo, no caso retratado de Ana Jansen. A conseqüência destas práticas é o
alto custo social, pois na medida em que
investimentos são inibidos, a capacidade de geração de receitas pelo
Estado diminui, e do pouco arrecadado, o que não é mal investido sofre desvios na sua aplicação.
(13)Por conta dessa lógica
perversa, o Maranhão possui o maior número de pessoas vivendo em situação de
pobreza, segundo revela a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
(14)Os dados alarmantes sinalizam que
cerca de 54,1% dos maranhenses vivem com menos de R$ 406 por mês, que é
considerado o valor estipulado pela pesquisa. Ainda segundo o IBGE, mais de 81%
dos maranhenses não possui saneamento básico adequado, e a média nacional é de
35,9% da população. Além disso, 32,7% das pessoas não tem acesso à coleta
direta ou indireta de lixo e para 29,2% não há abastecimento de água.
(15)Cerca de 3% da população vive sem
nenhum tipo de renda no Maranhão, quando a média nacional é de 2,4%. Além
disso, 24,3% vive com renda de um quarto a meio salário e outros 27,4 % vive
com renda entre meio a um salário-mínimo no estado.
(16) Porém, de
qualquer modo que a corrupção se apresente, ela é um fenômeno que
enfraquece a democracia , a confiança no
Estado, a legitimidade dos governos e a moral pública. A corrupção produz ineficiência e injustiça,
cujos efeitos produzem reflexos sobre a legitimidade política do Estado. Ela também pode ser apontada como uma das
causas da pobreza do país. Ela contamina
os indivíduos, e tira-lhes e direito de
exercer plenamente sua cidadania. Em um ambiente onde a corrupção
predomine dificilmente prospera algum
projeto para beneficiar os cidadãos.
(18)O Curso
de Formação de Auditores Sociais foi o projeto vencedor da 15ª Edição do Prêmio
Innovare. Um projeto concebido e aplicado no Maranhão e que já formou mais de 1
auditores sociais desde 2011. Esse projeto, senhores e senhores, venceu outros 434 concorrentes de todo o País.
(19)O
projeto é simples. Alia transparência pública ao conhecimento mínimo sobre as
ferramentas para o exercício do controle social. Quando o cidadão, conhecedor
dos seus direitos, é informado do valor dos recursos que devem ser aplicados em
seu município, pode fazer uma cobrança mais qualitativa junto aos gestores.
(20)É a vigília permanente do cidadão sobre o dinheiro público que vai fazer a diferença. A corrupção drena os recursos para determinada elite, deixando a população à mercê de atendimento básico das políticas públicas.
(20)É a vigília permanente do cidadão sobre o dinheiro público que vai fazer a diferença. A corrupção drena os recursos para determinada elite, deixando a população à mercê de atendimento básico das políticas públicas.
(21)O
nosso País é considerado um dos mais
desiguais do mundo em
termos de distribuição de renda. Os Governos Federal e Estadual vêm
buscando diminuir essas desigualdades com a promoção de programas
voltados para o combate à pobreza, ao analfabetismo e a promoção da
saúde, como por exemplo, o FUNDEB,
o Programa de Atenção à Básica à Saúde, Bolsa Família e muitos outros.
(22)No entanto, os governos perceberam que de nada adiantariam
esses
esforços se nos municípios ocorressem desvios, daí então, a função
estratégica do Controle Social, exercido através dos conselhos municipais
e das lideranças locais.
(23)São eles que cuidam para que os recursos públicos sejam utilizados para o desenvolvimento
das comunidades, e não para o enriquecimento de uns poucos. Desse modo, os executores
do Controle Social nada mais são que agentes de cidadania ativa, AUDITORES SOCIAIS, que devem exigir uma conduta ética e transparente na gestão dos recursos públicos.
(24)Não devemos nos esquecer que a conduta ineficiente de um conselho
pode condenar uma criança a uma vida com menos perspectiva de futuro,
pois os desvios do FUNDEB e da merenda escolar, por exemplo,
desmotivam os professores e prejudicam o desenvolvimento
intelectual e
cultural das crianças. Ou assassinar crianças/adolescentes como no trágico acidente ocorrido no Município de Bacuri em 2014.
(25)Da mesma forma, que um conselho da saúde inoperante, está
Contribuindo para o encurtamento da vida das pessoas, pois os
desvios dessas verbas comprometem o bem estar das pessoas impedindo-as de terem
acesso ao tratamento de doenças que poderiam ser facilmente curadas.
(26)Foi com o pensamento nos agentes do Controle
Social, conselheiros
e nas lideranças locais, que elaborei o projeto vencedor do Prêmio Innovare. Foi por amor a esta terra que nos
deu grandes valores como Manuel Beckman, Negro Cosme, Padre Josimo... que
fizemos o nome de uma iniciativa de cidadania do Maranhão ser conhecida nacional e internacionalmente.
Que a bandeira do controle social possa tremular como toda força de Carutapera à Araioses, passando por Alto Parnaiba.
Muito obrigado!!!