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segunda-feira, 6 de abril de 2020

A “tragédia” da criação dos novos municípios na Amazônia Legal: o caso do Maranhão

Mestrado, UEMA, PPDSR



Segundo pesquisa elaborada pelo escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), publicada em 2017, a região continua apresentando o maior grau de dependência das transferências federais, uma vez que sua arrecadação auferida significou apenas 63% da receita realizada no período, quando a média nacional é 82%. No caso do Maranhão, 75% dos municípios dependem dos recursos federais para fechar suas contas. A partir da década de 1990, houve um movimento emancipatório de povoados sem que fossem realizados estudos de viabilidade municipal adequados. E o Estado passou de 137 para 217 municípios. Ressalte-se que o fracionamento excessivo da divisão político-administrativa dos Estados acaba criando muitos municípios que não deveriam ter sido criados. De acordo com matéria publicada em O Imparcial, o Maranhão poderá “ganhar” mais 32 municípios. Nesse sentido, o ideal seria que fosse possível fundir ou refundir alguns desses municípios que não têm razão de existir isoladamente, ou estimular a cooperação entre eles. Todas às vezes que ocorre uma divisão, o município-mãe perde uma parcela significativa dos seus recursos. No caso do Maranhão, das cidades com população superior a 50 mil habitantes, São Luís é o município que apresenta a menor dependência em relação às transferências federais com o percentual de 59,3% de receitas oriundas de fontes externas, segundo o IBGE. E Barra do Corda a maior, com um percentual de 95,4%. Cabe aqui enfatizar que a crise financeira internacional, que explodiu no final de 2008, deixou a economia mundial em queda livre e seus efeitos ainda são largamente visíveis. Mudando, assim, drasticamente o quadro das transferências federais a Estados e Municípios. No contexto histórico de imensa desigualdade regional, os municípios do Maranhão ainda necessitam dos recursos do Governo Federal para equilibrar seus orçamentos e emancipação de mais 32 pode agravar o quadro de crise.


Autoria:
Welliton Resende Silva
Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Mestrando em Desenvolvimento Regional pela UEMA.
Auditor Federal

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

UEMA promove o IV Seminário de Ciência Política

As inscrições para o IV Simpósio de Ciência Política são gratuitas
O enfrentamento à agenda  ultraliberal precisa ser encarada como uma realidade na política brasileira e latino-americana. Pensando nisso o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioespacial Regional (PPDSR) da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) promove, no período de 10 a 12/12, o IV Simpósio de Ciência Política.

Segue a programação completa:

LOCAL: Auditório do Curso de História UEMA – Centro Histórico e Campus UEMA Cidade
Operária


Dia 10 de dezembro 2019

8:00 - CREDENCIAMENTO


8:30-10:00


Mesa 01: CONJUNTURA POLÍTICA BRASILEIRA E LATINO-AMERICANA: golpes,
levantes e estratégias de enfrentamentos à agenda ultraliberal
Prof. Dr. John Kennedy Ferreira (UFMA)
Prof. Ms. Saulo Pinto (UFMA)
Prof. Dr. Adroaldo José Silva Almeida (IFMA – Campus Maracanã)
Coordenação: Deusilene Pedra Viegas (Mestranda em Desenvolvimento Regional-UEMA)


10:30-12:30


Mesa 02: AGENDA ULTRALIBERAL E O DESMONTE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA
BRASILEIRA


Profa. Dra. Elisa M. dos Anjos (UFMA)
Profa. Dra. Zulene Muniz Barbosa (UEMA)
Prof. Dr. Bráulio Loureiro (UEMA)
Coordenação: Weliton Resende (Mestrando em Desenvolvimento Regional-UEMA)


14:30-17:00
Mesa 03: PARQUE DOS LENÇÓIS MARANHENSES: direitos territoriais e a resistência
popular
Prof. Dr. Benedito Souza Filho (UFMA)
Prof. Dr. Itaan de Jesus Pastor Santos (UEMA)
Coordenação: Michelle Santos Rocha (Mestranda em Desenvolvimento Regional-UEMA)


17:30: Lançamento de livro: “Democracias, lutas e movimentos sociais - Latino-América:
entre teorias e práticas”. Organizadores:
Profa. Dra. Ilse Gomes (UFMA)
Prof. Dr. Guilermo Alfredo Johnson (UFMA)
Ms. Berenice Gomes da Silva (UFMA)


Dia 11 de dezembro

8:30-10:00
Mesa 04: DA QUESTÃO AGRARIA A AGRÍCOLA: A privatização da terra (comunidades
quilombola, indígena e camponesa)
Prof. Dr. Benjamim Mesquita (UFMA)
Representante do MST - Jonas Borges
Prof. Ms. Ronaldo Barros Sodré (UFMA)
Coordenação: Rayllane Rebecca Pereira Figueiras (Mestranda em Desenvolvimento Regional-
UEMA)
10:30- 12:30
Mesa 05: O MARANHÃO E A DISPUTA DE HEGEMONIAS ENTRE POTÊNCIAS
IMPERIAIS: O CLA, Cajueiro e a resistência popular
Profa. Dra. Celia Motta (UFMA)
Danilo Serejo: Mestre em Cartografia social (UEMA) e coordenador do MABE
Silvana Gonçalves: Mestre em Desenvolvimento Regional (UEMA)
Coordenação: Artêmio Macedo Costa: Mestre em Desenvolvimento Regional (UEMA)
14:30-17:00
Mesa de 06: DECOLONIALIDADE E SOCIOLOGIA DA AMÉRICA LATINA
Prof. Dra. Edna Castro (NAEA/UFPA)
Debatedores: Prof. Dr. Guilermo Alfredo Johnson (UFMA)
Prof. Dr. Josenildo de Jesus Pereira (UFMA)
Coordenação: Profa Dra. Zulene Muniz Barbosa (PPDSR/UEMA)
Local: Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis, Rua Rio Branco - 420 - Centro
Lançamento do livro “DECOLONIALIDADE E SOCIOLOGIA DA AMÉRICA LATINA”
(no Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis)
Link para download do livro: http://www.naea.ufpa.br/naea/novosite/noticia/674


Dia 12 de Dezembro

Local: CECEN Campus UEMA Cidade Operária


8:30 -10:00 Oficina de Mapas (GEDITE)
Ministrantes: Igor de Sousa e Jéssica Mendes (Mestrandos em Desenvolvimento Regional - UEMA)
10:30-12:00
Mesa 07: SISTEMAS AGRÁRIOS NA AMAZÔNIA MARANHENSE
Prof. Dr. Jackson Júnior Bouéres Damasceno (Observatório UEMA)
Fabíola Ewerton K. Mesquita (Mestranda em Desenvolvimento Regional – UEMA e Eng.
Agrônoma. Fiscal Estadual Agropecuário e Diretora da AGED-MA)
Coordenação: Plhinio Vinicios Moraes Pereira (Mestrando em Desenvolvimento
Regional-UEMA)
14:30 as 16:00
Documentário: Raimunda – uma quebradeira de Coco
Comentários: Prof. Dr. Edna Castro (NAEA/UFPA



Mais informações e a ficha de inscrição pode ser encontrada aqui

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A nova Política Nacional de Desenvolvimento do Governo Bolsonaro


Por Welliton Resende*

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O Governo Federal bate na tecla que o caminho de redução das desigualdades passa pela valorização da diversidade do país. Assim, a superação do problema da desigualdade regional consiste na exploração dos potenciais endógenos de desenvolvimento das diversas regiões. Por exemplo, a produção de commodities no Maranhão (soja e eucalipto) poderia ser um caminho para alavancar o nosso desenvolvimento.
No último dia 01/10/2019 foi lançado o Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE), que aposta no fortalecimento estratégico das redes de cidades intermediárias. Foram identificados 41 municípios nos 11 estados da área de abrangência da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Segundo o ministro Gustavo Canuto, a ideia é investir nas cidades polo identificadas para que as áreas de influência possam crescer economicamente.
Nesse sentido, foram mapeados Polos de Agricultura Irrigada (Polo Oeste da Bahia), Rotas de Integração Nacional (Rota do Cordeiro, do Mel, do Peixe, Leite, Biodiversidade, Tecnologia da Informação e Comunicação, Economia Circular e outros) e os Perímetros Públicos de Irrigação.

Para o governador Flávio Dino (PCdoB) o PRDNE "é de fundamental importância para o Maranhão investir em ações que melhorem a infraestrutura do Estado, melhorando e integrando a logística para facilitar o escoamento da produção de grãos (especialmente da Região de Matopiba). Ligar a Transnordestina à Ferrovia Norte-Sul, implantar polos tecnológicos e dar uma atenção especial à educação também foram apontados como projetos prioritários".

A mudança na política de desenvolvimento se deu por conta da publicação do Decreto nº 9.810, de 30 de maio de 2019. Este normativo, revogou o antigo PNDR instituído ainda no Governo Lula pelo Decreto no 6.047, de 22 de fevereiro de 2007.

Tal qual o anterior, o novo PNDR tem por finalidade reduzir as desigualdades econômicas e sociais, intra e inter-regionais, por meio da criação de oportunidades de desenvolvimento que resultem em crescimento econômico, geração de renda e melhoria da qualidade de vida da população. Para tanto, serão articulada ações federais, estaduais, distritais e municipais, públicas e privadas que estimulem e apoiem processos de desenvolvimento.

O "new PDDR" traz, de forma inovadora, os seguintes princípios: I - transparência e participação social; II - solidariedade regional e cooperação federativa; III - planejamento integrado e transversalidade da política pública; IV - atuação multiescalar no território nacional; V - desenvolvimento sustentável; VI - reconhecimento e valorização da diversidade ambiental, social, cultural e econômica das regiões; VII - competitividade e equidade no desenvolvimento produtivo; e VIII-sustentabilidade dos processos produtivos.

São seus objetivos promover o nivelamento do desenvolvimento e da qualidade de vida inter e intra regiões brasileiras e a equidade no acesso a oportunidades de regiões que apresentem baixos indicadores socioeconômicos. Também, consolidar uma rede policêntrica de cidades, em apoio à desconcentração e à interiorização do desenvolvimento regional; estimular ganhos de produtividade e aumentos da competitividade regional (regiões que apresentem declínio populacional e elevadas taxas de emigração); e fomentar a agregação de valor e a diversificação econômica em cadeias produtivas estratégicas para o desenvolvimento regional, observados critérios como geração de renda e sustentabilidade, sobretudo em regiões com forte especialização na produção de commodities agrícolas ou minerais. Como é o caso do Maranhão.

Isto posto, não basta a Constituição Federal de 1988 assegurar no inciso III, do Artigo 3º, que as desigualdades sociais e regionais devam ser reduzidas, deverão ser utilizadas estratégias para que o texto magno deixe a frieza dos papeis. Nesse sentido, o novo PDDR enumera as seguintes estratégias:

I - estruturação do Sistema de Governança do Desenvolvimento Regional para assegurar a articulação setorial das ações do Governo federal, a cooperação federativa e a participação social;
II - implementação do Núcleo de Inteligência Regional no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e das Superintendências do Desenvolvimento da Amazônia, do Nordeste e do Centro-Oeste;
III - estruturação de modelo de planejamento integrado, por meio da elaboração de planos regionais e sub-regionais de desenvolvimento, pactos de metas e carteiras de projetos em diferentes escalas geográficas;
IV - aprimoramento da inserção da dimensão regional em:
a) instrumentos de planejamento e orçamento federal; e
b) políticas públicas e programas governamentais;
V - aderência dos instrumentos de financiamento aos objetivos de desenvolvimento regional;
VI - estímulo ao empreendedorismo, ao cooperativismo e à inclusão produtiva, por meio do fortalecimento de redes de sistemas produtivos e inovativos locais, existentes ou potenciais, de forma a integrá-los a sistemas regionais, nacionais ou globais;
VII - apoio à integração produtiva de regiões em torno de projetos estruturantes ou de zonas de processamento; e
VIII - estruturação do Sistema Nacional de Informações do Desenvolvimento Regional, para assegurar o monitoramento e a avaliação da PNDR e o acompanhamento da dinâmica regional brasileira.

O PNDR possui abordagem territorial, abrangência nacional e atuação nas seguintes escalas macrorregional (Norte, Nordeste e Centro-Oeste) e sub-regional (faixa de fronteira,região integrada de desenvolvimento e semiárido). A tipologia referencial definirá os espaços elegíveis por meio do quadro de desigualdades regionais estabelecida pelo IBGE e, após a publicação do Censo Demográfico de 2020, permanecerá vigente a tipologia estabelecida pelo MDR. O planejamento e a implementação das ações da PNDR, por seu turno, observarão os seguintes eixos setoriais de intervenção:




A governança ficará a cargo da Câmara de Políticas de Integração Nacional e Desenvolvimento Regional, que é a instância estratégica, presidida pelo Chefe da Casa Civil da Presidência da República, e serão ainda membros os Ministros da Economia e do Desenvolvimento Regional, entre outros. Um Comitê-Executivo ficará responsável por operacionalizar a articulação de políticas e ações. Outrossim, as ações de desenvolvimento serão planejadas por meio dos seguintes instrumentos:

I - Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia;
II- Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste;
III - Plano Regional de Desenvolvimento do Centro-Oeste;
IV- Planos sub-regionais de desenvolvimento;e,
V - Pactos de metas com governos estaduais e distrital e as carteiras de projetos prioritários em diferentes escalas geográficas.
Os objetivos do PNDR serão financiados por meio do Orçamento Geral da União, dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste, dos Fundos de Desenvolvimento da Amazônia, do Nordeste e do Centro-Oeste, dos programas de desenvolvimento regional de bancos públicos federais existentes ou que venham a ser instituídos, dos incentivos e benefícios de natureza financeira, tributária ou creditícia, e, por fim, outras fontes de recursos nacionais e internacionais.
Uma inovação interessante é que as aplicações dos recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento e dos Fundos de Desenvolvimento deverão ser planejadas, de forma a considerar a mitigação dos riscos de créditos envolvidos nas aplicações, tendo em vista a heterogeneidade das sub-regiões e dos beneficiários desses recursos, com vistas à redução das taxas de inadimplência, à consecução dos financiamentos concedidos e ao alcance dos objetivos desses Fundos. 

A Sudam, Sudene e Sudeco, em conjunto com o MDR, são responsáveis por publicar anualmente os resultados do monitoramento das concessões e das aplicações dos Fundos Constitucionais. E a cada 180 dias as instituições operadoras devem prestar as informações necessárias ao monitoramento e à avaliação das concessões e das aplicações dos instrumentos de financiamento da PNDR.

O monitoramento e avaliação será realizado por meio do Núcleo de Inteligência Regional, instância permanente de assessoramento técnico às instituições do Governo federal, destinado à produção de conhecimento e informações afetas à PNDR e aos seus instrumentos. De igual modo, vai ser criado o Sistema Nacional de Informações do Desenvolvimento Regional com o objetivo de monitorar e avaliar os instrumentos financeiros, os planos, os programas e as ações da PNDR, inclusive por meio do intercâmbio de informações com os demais órgãos e entidades públicos e com organizações da sociedade civil.
O MDR coordenará a elaboração de Relatório Anual de Monitoramento da PNDR, do Relatório Quadrienal de Avaliação da PNDR e do Relatório Quadrienal de Avaliação da PNDR, que conterá a análise dos indicadores de avaliação a serem apresentados durante as Conferências de Desenvolvimento Regional. Convém ressaltar, que o atual PNDR procura suprir as críticas do Tribunal de Contas da União de baixa aderência aos paradigmas da PNDR anterior (TCU, 2011). Conforme o TCU, os planos anuais não apresentavam um conjunto de indicadores e metas adequados e suficientes para avaliar e direcionar as aplicações de recursos de acordo com as diretrizes e prioridades traçadas pela PNDR e o TCU não enxergava indicadores e metas quantitativas anuais de distribuição por microrregiões prioritárias. 

Assim, a violência da desigualdade regional constitui um fator de entrave ao processo de desenvolvimento do Brasil. O Estado de São Paulo, por exemplo, tem um PIB de R$ 1,349 trilhões e supera em 9 vezes o de Roraima R$ 6,9 bilhões. Nesses termos, as desigualdades refletem-se na perspectivas de qualidade de vida das populações e diferenciam os cidadãos também com relação ao seu domicílio e local de trabalho.

Por derradeiro, o principal objeto de uma Política Nacional de Desenvolvimento é buscar reduzir as profundas desigualdades de níveis de vida e de oportunidades de desenvolvimento entre unidades territoriais ou regionais do país devendo organizar as ações com autonomia,sustentabilidade, transparência, efetividade e integridade (Resende, 2019).



*Resende é auditor federal e mestrando em Desenvolvimento Regional/UEMA
 


sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Gestão pública e racionalidade administrativa: sobre gestão ambiental urbana no Brasil

 Resenha do artigo de Salviana Pastor


Por Welliton Resende



O presente artigo3 versa sobre a racionalidade administrativa da gestão pública tomando-se como referência a questão ambiental nas cidades brasileiras, ou seja, as contemporâneas relações entre cidade e política. 

O trabalho apresenta como referência analítica três critérios básicos utilizados por Offe (1984) para problematizar a ação político-administrativa nos marcos do capitalismo: (1) atendimento ao estatuto jurídico, (2) consensos de natureza teleológica e (3)acordos de natureza extralegal.

Parte-se da perspectiva de que, nos marcos do capitalismo, a propriedade privada e o contrato são instituições centrais e que esse modo de produção ‚[...] como um todo é absolutamente dissipador, e tem de continuar a sê-lo em proporções sempre crescentes‛ (MÉSZÁROS, 1989, p. 27).

Nesse sentido, a gestão pública da questão ambiental tem feição predominantemente empresarial.

De acordo com Harvey (1996), a partir dos anos 1980, processos como a reestruturação produtiva, a mundialização da economia, o desemprego e a crise fiscal teriam provocado a formação de vasto consenso entre os governos locais no sentido de que as cidades adotassem postura mais agressiva na competição por investimentos privados e por empregos.

Essa postura resultou na superação de métodos e objetivos do planejamento urbano tradicionais.  Assim, o planejamento estratégico de cidades traduz a ideia de gestão empresarial para o setor público.

São cidades competitivas aquelas que se pautam pela perspectiva de atração de capitais, empresas, turistas e capacidades. Por sua vez, cidades sustentáveis são aquelas que se fundam no sentido de favorecer articulação harmoniosa entre desenvolvimento econômico, respeito à natureza e preservação do meio ambiente natural e construído.

O que é disjunção? Vem se disseminando, porém, um apelo pela confluência das ideias de competitividade e sustentabilidade que, muitas vezes, coloca em xeque a agenda dos governos das cidades despreparados para essa dinâmica da inovação (OLIVEIRA, 2001).

No Brasil, os principais problemas ambientais se situam em áreas rurais, como sequelas da expansão capitalista direcionada pela busca indiscriminada por recursos naturais, como água e terra.
Nas áreas urbanas vem se aguçando questões que decorrem da precariedade ou ausência de abastecimento de água, esgotamento sanitário e limpeza.

Nos territórios urbanos esses problemas incidem mais fortemente sobre os moradores que habitam as áreas precárias e segregadas que também tendem a ser culpabilizados, de forma combinada, pela violência e pela de má gestão do manejo dos resíduos sólidos.
 
A racionalidade administrativa da gestão urbana da questão ambiental é de feição empresarial.
Na demarcação dessa questão partiu-se de dois pressupostos:  1) a reprodução do sistema capitalista tem suporte em um processo sistemático de dissipação dos recursos naturais; 2) a gestão pública é premida a estabelecer negociações, formular e desenvolver ações que, muitas vezes, se distanciam do marco regulatório definido no campo da gestão estatal configurando particularidades à racionalidade administrativa.

Ao privilegiar a gestão urbana da questão ambiental no Brasil, pode-se apreender que a vida urbana traduz relações conflitantes entre capital, Estado e usos dos recursos ambientais.

O dano causado ao meio ambiente é um dos alicerces das relações pertinentes à adaptação dos territórios urbanos aos estágios do desenvolvimento das forças produtivas, do trabalho, do mercado e do consumo. E configura-se em um campo permanente de tensões entre as teses da sustentabilidade e da insustentabilidade.

No caso da gestão urbana da questão ambiental no Brasil, o processo de administração pública, ao mesmo tempo em que se assenta no predomínio da gestão de feição empresarial, afasta-se do próprio marco regulatório. 

A racionalidade administrativa se manifesta de forma enviesada incapaz de reverter a crise ambiental instalada nas cidades do Brasil.


sexta-feira, 9 de agosto de 2019

UEMA promove o II Seminário do Observatório de Desenvolvimento Regional

 O evento é promovido pelo Programa de de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioespacial e Regional – PPDSR  da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)
Estão abertas as inscrições para o “II SEMINÁRIO OBSERVATÓRIO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL”, que tem como tema “ A política energética brasileira para a Amazônia: Impactos sociais, ambientais e alternativas sustentáveis em tempos de neoliberalismo.

O objetivo do evento é discutir a política energética brasileira para a Amazônia, numa interlocução com outros pesquisadores para produzir subsídios e difundir conhecimentos produzidos sobre o tema, implementar estratégias de articulação entre grupos e redes de pesquisa sobre a questão energética.  

Para o mestrando e auditor federal Welliton Resende, o seminário vai ser uma excelente oportunidade para que os alunos possam mostrar os seus projetos de pesquisa. "No meu caso, vou discutir a questão da verdadeira “tragédia” que foi a criação dos novos municípios na Amazônia Legal, tomando-se por base o Maranhão", pontuou Resende.

O seminário será realizado, no período de 13 a 15 de agosto, no prédio do Curso de História Praia Grande, em São Luís, e terá a apresentação de trabalhos dos alunos do Mestrado de Desenvolvimento Regional/UEMA e de outras instituições.
Alunos da turma do Mestrado/2019.


Confira a Programação:

13 de agosto de 2019
Mesa oficial de Abertura 9h
Conferência de abertura: A POLÍTICA ENERGÉTICA BRASILEIRA PARA A AMAZÔNIA: impactos sociais, ambientais e alternativas sustentáveis em tempos de neoliberalismo
Prof. Dr. Edna Castro (UFPA- NAEA)
Coordenadora: Prof.Dr. Zulene M Barbosa

Manhã – horário:9:30
Apresentação de trabalho

14:00- 15:30 (três eixos)

A partir das 15:30 – Todos liberados para participação na Mobilização Nacional em Defesa da Educação e d previdência social

Dia 14 de agosto

9hs-Mesa-redonda 01: O SETOR ELETRICO BRASILEIRO, AS PRIVATIZAÇOES E OS IMPACTOS SOBRE AS POLULAÇÕES ATINGIDAS POR BARRAGENS
Welington Diniz- Sindicatos dos Urbanitários do Maranhão
Adriana de Oliveira – CUT
Joel da Conceição – CTB
Elói Natan – CSP com Lutas
Dalila Joana – MAB
Coordenador: Marcos Silva

Tarde
Mesa-redonda – AS ALTERNATIVAS DE PRODUÇAO DE ENERGIA EÓLICA E OS IMPACTOS DA TRANSMISSÃO NA REGIÃO DO MUNIN
Flaviano Sousa (presidente da associação de pequenos produtores rurais-
Carlos Pereira – Associação agroecológica Tijupá
Maria José Palhano – liderança quilombola
Coordenadora da Mesa: Prof. Dra. Marivânia Leonor Furtado

Dia 15 de agosto

O MATOPIBA, EXPANSÃO TERRITORIAL NO CERRADO E A RESISTÊNCIAS DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS
Luciano da Silva Guedes (UFT)
Benjamin Alvino Mesquita (UFMA)
Jonas – MST
Coordenadora: Prof. Dra. Prof. Dra. Rosirene Martins

Tarde
16:00: Palestra de encerramento
AS LUTAS SOCIAIS E A QUESTÃO DA SUSTENTABILIDADE NA CRISE DO CAPITALISMO
Prof. Luiz Alberto Rocha (UFPA)
Coordenadora: Prof. Dra. Jose Sampaio Matos Jr

Mais informações, clique aqui

domingo, 14 de abril de 2019

A construção do mito da brasilidade

Dissecando Jessé Souza


A-Que pergunta o texto procura responder?

-Por que o Brasil se percebe como “mercado” e os países desenvolvidos se percebem como “sociedade”?

B-Qual a tese central do texto?

-DNA coletivo baseado na nossa história

C-Que argumentos sustentam a tese?

Arrumar uma tábua de salvação para um país recém-autônomo (1822), composto em sua imensa maioria de escravos, homens livres incultos/analfabetos acostumados a obedecer e não a serem livres.

O tema da natureza foi o primeiro. Recorrente no decorrer do século 19 na prosa, na poesia, na construção de nossa literatura e nas imagens de grandeza do grande “país do futuro”, “deitado em berço esplêndido”, apenas esperando para ser acordado e cumprir seu grande destino dentre os grandes povos da terra.

O tema “imagem positiva” para um “povo de mestiços” foi o segundo. Durante todo o século 19 e até a década de 1920, o paradoxo da identidade nacional brasileira vai ser materializado, precisamente, com base na impossibilidade, num contexto histórico em que o racismo possui “prestígio científico” internacional, de se construir uma “imagem positiva” para um “povo de mestiços”. Foi a  “virada culturalista” levada a cabo por Gilberto Freyre com a publicação de Casa-grande & senzala em 1933.

Tiro no pé. O nosso mito da cordialidade é a aversão a toda forma de explicitação de conflito e de crítica.  Por conta disso nosso debate acadêmico e político é tão pobre e tão pouco crítico. A aversão ao conflito é o núcleo de nossa “identidade nacional”, na medida em que penetrou a alma de cada um de nós de modo afetivo e incondicional.


Por Welliton Resende
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quarta-feira, 27 de março de 2019

A grande transformação: as origens de nossa época




Resenha da obra de Karl Polonyi


Por Welliton Resende
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A civilização do século XIX se firmava em quatro instituições. A primeira era o sistema de equilíbrio de poder que, durante um século, impediu a ocorrência de qualquer guerra prolongada e devastadora entre as Grandes Potências. A segunda era o padrão internacional do ouro que simbolizava uma organização única na economia mundial. A terceira era o mercado auto-regulável, que produziu um bem-estar material sem precedentes. A quarta era o estado liberal. Nesse sentido, o próprio  estado liberal foi uma criação do mercado autoregulável. Portanto, a chave para o sistema institucional do século XIX está nas leis que governam a economia de mercado.

Em muitos países o estado liberal foi substituído por ditaduras totalitárias e a instituição central do século produção baseada em mercados livres - foi substituída por novas formas de economia. Isto nos leva à nossa tese que ainda precisa ser provada: que as origens do cataclisma repousam na tentativa utópica do liberalismo de estabelecer um sistema de mercado auto-regulável.

Uma tese como esta parece investir esse sistema de poderes quase místicos; implica, nem mais nem menos, que o equilíbrio-de-poder, o padrão-ouro e o estado liberal, esses elementos fundamentais da civilização do século XIX, em última análise, foram todos eles modelados por uma matriz comum, o mercado auto-regulável.

Do ponto de vista político, o estado centralizado era uma nova criação, estimulada pela Revolução Comercial que mudara o centro de gravidade do mundo ocidental do Mediterrâneo para as costas do Atlântico, compelindo, assim, os povos atrasados de grandes países agrários a se organizarem para o comércio e os negócios.

O que quer que o futuro lhes reservasse, a classe trabalhadora e a economia de mercado surgiram na história ao mesmo tempo. O horror à assistência pública, a desconfiança na ação do estado, a insistência na respeitabilidade e na autoconfiança permaneceram como características do trabalhador britânico durante gerações.

Na época da Speenharnland, porém, a verdadeira natureza do pauperismo ainda permanecia oculta à visão dos homens. Havia um consenso geral quanto à validade de uma grande população, tão grande quanto possível, pois o poder do estado consistia em homens.

De fato, foi marcante a mudança de atmosfera entre Adam Smith e Townsend. O primeiro marcou o fim de uma era que se abriu com os inventores do estado, Thomas More e Maquiavel, Lutero e Calvino; o último já pertencia ao século XIX, no qual Ricardo e Hegel descobriram, a partir de ângulos opostos, a existência de uma sociedade que não estava sujeita às leis do estado mas, ao contrário, sujeitava o estado às suas próprias leis.

A lei populacional de Malthus e a lei dos rendimentos diminuídos apresentada por Ricardo tornaram a fertilidade do homem e do solo os elementos constitutivos do novo reino cuja existência havia sido descoberta. A sociedade econômica emergira como algo separado do estado político.

Nenhum pensador chegou tão longe quanto Robert Owen no reino da sociedade industrial. Ele tinha profunda consciência da distinção entre sociedade e estado; embora não tivesse qualquer preconceito contra esse último, como ocorreria com Godwin, ele via o estado apenas por aquilo que ele podia executar: uma intervenção que afastasse da comunidade qualquer perigo mas não, enfaticamente, para a organização da sociedade.
Da mesma forma, ele não nutria qualquer animosidade contra a máquina, cujo caráter neutro ele reconhecia. Nem o mecanismo político do estado, nem o aparato tecnológico da máquina
esconderam dele o fenômeno: a sociedade. Ele rejeitava a abordagem anirnalista da
sociedade, refutando suas limitações malthusianas e ricardianas. O fulcro de seu
pensamento, porém, foi o seu afastamento do Cristianismo a quem ele acusava de
"individualização", ou de fixar no próprio indivíduo a responsabilidade pelo caráter,
negando assim, segundo Owen, a realidade da sociedade e sua influência formativa e
todo-poderosa sobre o caráter.

Na virada do século XIX - o sufrágio universal já tinha agora uma abrangência
bastante ampla - a classe trabalhadora era um fator de influência no estado
Enquanto esse sistema não é estabelecido, os liberais econômicos apelarão, sem hesitar, para a intervenção do estado a fim de estabelecê-lo e,uma vez estabelecido, a fim de mantê-lo.

O liberal econômico pode, portanto, sem qualquer contradição, pedir que o estado use a força da lei; pode até mesmo apelar para as forças violentas da guerra civil a fim de organizar as precondições de um mercado auto-regulável.

A visão grotesca do Estado de Hobbes - um Leviatã humano, cujo corpo imenso era formado por um número infinito de corpos humanos - foi eclipsada pelo construto ricardiano do mercado de trabalho; um fluxo de vidas humanas cujo abastecimento era regulado pela quantidade de alimentos à sua disposição.

Em resumo, o liberalismo econômico estava aferrado ao estado liberal, enquanto
o mesmo não ocorria com os interesses fundiários esta foi a fonte do seu significado
político permanente no continente, que produziu as correntes cruzadas da política
prussiana sob Bismarck, que alimentou a revanche clerical e militarista na França, que
garantiu a influência da aristocracia feudal na corte do império dos Habsburgs, que fez da
Igreja e do exército os guardiães dos tronos em derrocada.

No século XIX, os rompimentos da paz, se feitos por multidões armadas, eram considerados rebelião incipiente e um grande perigo para o estado: as ações entravam em colapso e não havia mais fundo para os preços.

Um orçamento sólido e condições estáveis de crédito interno pressupunham câmbios externos estáveis; os câmbios não podiam ser estáveis a menos que o crédito doméstico fosse seguro. e as finanças internas do estado estivessem equilibrada. Resumindo, a custódia gêmea do banqueiro compreendia uma sólida finança doméstica e a estabilidade externa do meio circulante.

Nada era mais simples do que mudar uma denominação pela outra através do uso do
mercado cambial, uma instituição que não poderia deixar de funcionar, uma vez que,
felizmente, ela não estava sob o controle do estado ou dos políticos.

Os estados 'e os impérios são considerados congenitamente imperialistas, eles devorarão seus vizinhos sem qualquer compulsão moral. Permitir que o poder do estado e
os interesses comerciais se fundissem ão era uma idéia do século XIX; pelo contrário, os
primeiros estadistas vitorianos já haviam proclamado a independência do político e do
econômico como uma máxima de comportamento internacional.

O princípio da não intervenção do estado nos casos de negócios privados era mantido não apenas internamente.
A responsabilidade coletiva pelo meio circulante criou o indestrutível arcabouço dentro do qual os negócios e os partidos, a indústria e o estado se ajustavam à tensão.

Em todos os lugares a separação entre a esfera econômica e a política foi o resultado do mesmo tipo de desenvolvimento. Tanto na Inglaterra como no continente, os pontos de partida foram a criação de um mercado de trabalho competitivo e a democratização do estado político.

A Revolução Francesa e os seus assignats* mostraram que o povo podia destruir
a moeda, e a história dos estados americanos não ajudava a dissipar essa suspeita.
Durante a década de 1920, de acordo com Genebra, as questões de organização social tinham que ser inteiramente subordinadas às necessidades de restauração da moeda. A deflação era a necessidade básica e as instituições internas tinham que se ajustar da melhor maneira que pudessem. Enquanto isto era preciso adiar até mesmo a restauração dos mercados internos livres e do estado liberal.

As contra-revoluções eram o retorno habitual do pêndulo político em direção a um
estado de coisas que havia sido perturbado violentamente.

Na verdade, como sabemos agora, o comportamento do homem, tanto em seu
estado primitivo como através do curso da história, foi praticamente o oposto do
comportamento implícito nessa perspectiva. A frase de Frank H. Knight, "nenhum motivo
especificamente humano é econômico".

O poder do estado não era levado em conta, pois quanto menor ele fosse mais facilmente
funcionaria o mecanismo de mercado. Nem os eleitores, nem os proprietários, nem os
produtores, nem os consumidores podiam ser responsabilizados por essas brutais
restrições à liberdade que resultaram na ocorrência do desemprego e da destituição.

Qualquer indivíduo decente podia se considerar isento de qualquer responsabilidade por
atos de compulsão por parte de um estado que ele, pessoalmente, rejeitava; ou pelo
sofrimento econômico inflingido à sociedade e que não o beneficiava pessoalmente. Ele
"pagava as suas contas", "não devia a ninguém", e não se envolvia nos males do poder e
do valor econômico. Ele se sentia tão isento dessa responsabilidade que negava a sua
realidade em nome da própria liberdade.