Segundo a polícia, o filho do prefeito de
Turilândia e o próprio prefeito estão envolvidos nas fraudes; outros políticos
também podem ter sido beneficiados com falsificações
POR GABRIELA SARAIVA e OSWALDO VIVIANI
Jornal Pequeno
A prisão, na última sexta-feira (4), do
falsificador Deyslan Silva Mendes, de 27 anos, no município de Santa Helena, e
documentos apreendidos numa casa e numa fazenda revelaram um grande esquema de
fraude eleitoral na Baixada Maranhense. Segundo a polícia, Marcel Everton
Silva, o “Marcel Curió”, filho do prefeito de Turilândia, Domingos Savio
Fonseca Silva, o “Domingos Curió”, está envolvido nas fraudes, assim como seu
pai. Marcel é pré-candidato a prefeito de Governador Nunes Freire. Outros
políticos também podem ter sido beneficiados com as falsificações. O delegado
de Nunes Freire, Ricardo Pinto Aragão, que está à frente das investigações,
apontou os nomes do vice-prefeito de Governador Nunes
Freire, Edmilson Medeiros Santos, o “Pachico”, 51 (PDT); do vereador Raimundo Pedro
Costa, 38 (PSD), de Turilândia, e de outro filho de Domingos Curió, conhecido
como Paulo Curió.
As investigações que resultaram na operação policial que prendeu Deyslan
Silva Mendes – levada a cabo por policiais civis de Junco do Maranhão,
Maracaçumé, Santa Helena e Governador Nunes Freire – tiveram início no dia 25
de abril passado, quando três pessoas foram presas em flagrante em posse de
documentos falsos para adquirir transferência de títulos eleitorais. Foram
presos, na ocasião, João de Deus Silva, Edinalva da Silva Melo e a agenciadora
Valdemira Martins Matos, surpreendidos em flagrante com documentos falsificados
da Cemar, do Banco do Brasil e da Oi.
Portando mandados de prisão e busca domiciliar, expedidos pela juíza
Raquel Araujo Castro Teles de Menezes, com o parecer do promotor Hagamenon de
Azevedo, a polícia diligenciou à residência do falsificador Deyslan Mendes, em
Santa Helena.
No local, foram apreendidas impressoras e uma grande quantidade de
material falsificado, inclusive informatizado. Entre os documentos, foram
encontrados extratos bancários e envelopes do Banco do Brasil e do Itaú, além
de certidões de nascimento, casamento, carteiras de identidade, documentos de
cartórios eleitorais de alguns municípios, CPFs, certidões de óbito, IPVA e
mandados de busca e apreensão expedidos pela 7ª Vara Cível de São Luís.
Já em Governador Nunes Freire, numa busca realizada na fazenda do
pré-candidato a prefeito de Governador Nunes Freire, Marcel Everton Silva, foi
encontrado vasto material, fruto de falsificação, com documentos públicos e
privados e até mesmo símbolos dos poderes Judiciário e Executivo.
“Achamos inclusive títulos de eleitor duplicados e documentação da
Caema”, disse ao JP o delegado Ricardo Pinto.
Segundo o delegado, as fraudes vinham sendo realizadas desde 2008, e
vários políticos – entre eles o atual prefeito de Turilândia, Domingos Curió,
teriam sido eleitos por meio delas.
Entre os documentos falsificados apreendidos, 1.500 foram utilizados nas
eleições passadas (2008) e 730 seriam usados por Marcel Curió. Em depoimento,
Deyslan teria afirmado, segundo a polícia, que recebeu o valor de R$ 5 mil nos
trabalhos realizados durante a eleição de 2008, e que, para as falsificações
que estavam sendo feitas para o próximo pleito, receberia por cada 200 lotes de
documentações “fabricadas” a quantia de R$ 50 mil.
Conforme o delegado Ricardo pinto, pelo menos 10 políticos estão
diretamente envolvidos nas fraudes e foram beneficiados com o esquema. De forma
indireta, aproximadamente 400 pessoas participavam do processo.
“Encontramos também vários documentos da Previdência Social, que indicam
que as fraudes eram feitas igualmente com o nome de pessoas mortas”, informou o
delegado de Nunes Freire, que garantiu que “todos os envolvidos no esquema
fraudulento serão indiciados”.
O pré-candidato a prefeito de Governador Nunes Freire, Marcel Curió, não
foi encontrado na fazenda em que a polícia realizou busca e apreensão. Ele teve
sua prisão pedida.
Ao ser interrogado, Deyslan Mendes teria afirmado à polícia que
trabalhou no Cartório do Fórum de Santa Helena e no Tribunal de Justiça de São
Luís, mas o TJ-MA negou que o acusado tenha tido qualquer vínculo empregatício
com a instituição.