quarta-feira, 14 de março de 2012

A metamorfose ambulante de parte da esquerda maranhense

 Por Salvador Fernandes*


Salvador Fernandes é ex-presidente do Diretório Estadual do PT
Há dias, um amigo de longas datas, antigo militante petista de primeira hora, telefonou-me para falar, com um ar de surpresa, que, nas vezes em que se dirigiu à sede da direção municipal do Partido para quitar as suas obrigações financeiras com a legenda, no intuito de participar da peleja que irá indicar o futuro candidato do PT à prefeitura de São Luís, sempre a encontrou de portas fechadas. Sabe, embora não queira acreditar, que é o vale tudo promovido pelos controladores da sigla partidária para a manutenção, no plano municipal, da linha política adesista à oligarquia Sarney. Com certeza, causa-lhe náuseas, mesmo resistindo ao vômito, participar de embates políticos com mercadores que enlameiam e ferem de morte, há um bom tempo, a trajetória daquele Partido, que dentre outras tantas virtudes,  notabilizou-se pelo exercício da democracia interna e o respeito às diferenças. Este legado que empolgou mentes e corações de múltiplos segmentos sociais e engajou dezenas de milhares de homens e mulheres na construção de um novo  Partido de Esquerda, que se propunha a romper radicalmente com a  tradição  autoritária e personalista das varias organizações da esquerda brasileira.

Tempos atrás, nas concorridas discussões dos fóruns petistas, sejam partidários ou sindicais, era comum muito militante utilizar-se da letra e música do saudoso Raul Seixas –  “Metamorfose Ambulante” - para repugnar concepções e práticas que tivessem alguma relação com a matriz ideológica da esquerda tradicional. Era a satanização de todas as organizações com raízes históricas no Marxismo. Para  surpresa dos desavisados, estes  homens e mulheres, travestidos de nova esquerda, estavam, na verdade, trilhando pelo caminho do conservadorismo político, pondo em prática com afinco as bulas das manobras partidárias, comum às agremiações da elite nacional. 
Aqui, entre estes controladores de plantão, como noutros rincões brasileiros, o oportunismo partidário petista campeia. Trazem na ponta da língua as motivações e respostas para tanto. São os ventríloquos do dito “projeto nacional petista”.  Em nome desse embuste, tudo é permitido. O resto é “perseguição política” de derrotado. O patrimonialismo petista se alastra como erva daninha. Virou prática corriqueira, entre a maioria daqueles que ocupa um naco do Estado loteado, em nome da sigla partidária. A linha divisória entre tradição política brasileira e a maioria dos protagonistas petistas é a voracidade de acumular riqueza em tempo mais curto. A exemplificação é de fácil identificação em nível local e nacional. Uns recebem “Bolsa” para não pesquisar o objeto; outros se locupletam de “Consultorias” sem objeto. Na verdade, tem-se uma inversão de valores. No plano nacional, muitos petistas estão sendo moldados pelos aliados conservadores, enquanto que na província a sigla tornou-se apenas o sócio menor de uma oligarquia corrupta e decadente.
Noutra ponta, assiste-se à via crúcis  de militantes históricos do PDT maranhense, inclusive recorrendo às instâncias judiciais, na tentativa de preservar os ideais de luta e resistência pautada no trabalhismo getulista, que para maioria que controla a máquina partidária é viver agarrado a um passado que não rende voto, e muito menos negócios. O pior, com anuência do comando nacional pedetista. No caso, é como se entregar cheque em branco a estelionatário. 
Assim, para esses timoneiros políticos de “esquerda”, qual seria a ofensa intelectual em afirmar a pertinência desta máxima do senso comum: “Todo político é igual”.

Salvador Fernandes*
Economista 
Servidor Federal
Ex-Presidente Estadual do PT/MA.

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