Como criar uma cultura de inovação no serviço público?


Por Welliton Resende*

Infelizmente, esse tema passa à distância das discussões políticas atuais. E quase nunca é abordado no horário eleitoral pelos candidatos e nas poucas vezes em que ganha alguma visibilidade limita-se a chavões, clichês ou frases prontas que mais parecem saídas de parachoques de caminhões. Quando um governante se propõe a criar uma cultura de inovação ele deve pensar primeiramente em melhorar a qualidade da oferta de suas políticas públicas. 

Assim, da secretária de Assistência Social à de Gestão Penitenciária, por exemplo, todas as pastas devem estar imbuídas nesse compromisso. O primeiro passo para inovar é ouvir a sociedade. Isso vai propiciar que o gestor oferte programas e projetos conectados às reais necessidades do usuário. Um gestor inovador se pergunta sempre: como tornar a gestão pública melhor e mais transparente? O que eu posso entregar com eficiência e com o menor custo para o contribuinte? 

O primeiro passo é o gestor tomar consciência que esse processo depende inteiramente das pessoas, ou seja, do servidor público, estatutário ou não. Fiz um levantamento em um portal da transparência de um grande Estado e percebi que todo o recurso para a inovação foi utilizado na aquisição de equipamentos tecnológicos. 

Veja bem, não é um amontado de computadores novos e notebooks de última geração que trabalharão sozinhos e, portanto, darão uma resposta significativa à questão da inovação. Digo que são insumos estruturantes para que uma política de inovação seja efetivamente implementada: servidores públicos criativos, metas desafiadoras e dotação orçamentária direcionada para o produto dos insights.

Recomendo que o gestor reserve 5% do orçamento dos recursos das áreas de gestão e planejamento para novos programas e projetos. Da mesma forma, sugiro que os servidores possam ter, no mínimo, 15% do período da sua jornada de trabalho para pensar em inovação. Claro, desde que desejem. Afinal de contas, ninguém é obrigado a ser criativo. Algumas pessoas têm aptidão e outras simplesmente não.

Além disso, o gestor público ainda pode contar com o auxílio de universidades e organizações não-governamentais parceiras nesse processo. A ideia é que o gestor tenha sempre a mente aberta para olhar práticas inovadoras de outros Estados, Municípios e até países. Você sabia que o Serviço Médico de Urgência (SAMU) foi criado na França nos anos 80? A ideia foi tão boa que se espalhou por todo o mundo. 

Por fim, a inovação não deve ser encarada como um modismo passageiro, mas como uma política de Estado. Deve se pensar no longo prazo em como entregar programas e projetos melhores para a sociedade e de forma mais barata para o contribuinte.


*Resende é auditor federal, professor universitário, vencedor do Prêmio Innovare e autor do livro Transparência pública na gestão municipal


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