As armas utilizadas pela direita brasileira para manter a desigualdade social



 Por Welliton Resende

Na última década emergiu no cenário político mundial o fenômeno da "nova direita". Em verdade, uma heterogênea constelação  com uma diversidade incrível de correntes se abrigando em um campo gravitacional percebido por Bobbio como uma concepção "binária e relacional". Recolocando-se como campos políticos antípodas (diametralmente oposto) aos tipos ideias de direita versus esquerda.

No entanto, Bobbio usa binarismo com cautela adotando um ponto de partida principal que vai acrescentando inúmeras mediações, questões e complicadores. Entre as gravitações dos dois campos, há algo que fica encoberto que seria um outro binarismo axial: a igualdade versus a desigualdade.

Assim, a impressão que perpassa é que a Direita orienta-se pelo reconhecimento da desigualdade como ordem natural e limite de toda ação política e a Esquerda seria orientada pelo desejo de superar essa ordem e instalar a igualdade.

Guardadas os devidos antagonismos entre as visões, posições, discursos e forças em tensão, o seu leito comum pauta-se na aceitação (ou defesa) da desigualdade de acesso ao poder político e à inclusão como cerne da vida social.

 Theodor Adorno (et al) defenderam a Teoria da Personalidade Autoritária (1950) que diz que os indivíduos têm uma inclinação para o projeto autoritário ou da personalidade democrática  como duas tendências contrapostas de sociabilidade.

Na personalidade autoritária ocorre uma adesão à moral dominante (convencionalismo ou submissão acrítica), a agressividade pautada na recusa do outro e no seu controle, a beligerância e inclinação ao binômio submissão/dominação.

Michel Lowy (2015) estabelece a correlação entre direita(extremada) e o facismo e enxerga traços comuns no: nacionalismo, antiglobalismo, xenofobia, racismo explícito, retórica anti-imigrante, islamofobia, beligerância e intolerância, aversão ao comunismo e na seleção de inimigo (interno e externo).

Rotbard (1979) há uma tendência individualista, racional, progressista e tolerante do liberalismo norte-americano em oposição a um dogmatismo e uma visão imobilista e fechada de mundo dos conservadores.

Coutinho (2018) fala em "conservadorismos" indicando que cada época pode expressar um formato particular de pensamento conversador. A base do conservadorismo são: a prudência, a aceitação de uma ordem natural que condiciona indivíduos e instituições e a recusa de mudanças radicais e utópicas.

 Hirschman (1991) acredita que hoje uma reposição do campo conversador em face do avanço das igualdades civil, política e social. A alteridade (distinção) de fronteiras ocorre pelo princípio da recusa , quanto à percepção da ressignificação contínua dos campos ideológicos. Assim, se a esquerda avança incluindo, a direita organiza-se recusando.

Assim, geraram manifestações do campo conservador a Declaração dos Direitos do Homem, a emergência das massas na política e o surgimento do Welfare State. (O neoliberalismo poderia ser uma forma de insurgência do campo conservador?)

Para Hirschman a retórica conservadora se baseia em três teses: I- Tese da perversidade (refuta as mudanças propostas pela políticas públicas); II-  Tese da futilidade (há riscos de a política ser inócua, incapaz de produzir os efeitos desejados); III-Tese da ameaça (risco de perda substancial de algum ganho já existente pela adoção de nova política.

Somadas as teses produzem uma matriz discursiva que banaliza, aponta a impotência e o ridículo de políticas públicas deslegitimando-as.

No Brasil, as armas da "nova direita" utilizam-se das três retóricas de Hirschman e também da guerra híbrida (falsificação histórica e do marco teórico, com associações perversas entre temas, eventos ideias que de fato não ocorreram como ocorre nas fake news).

As ideologias e os porta-vozes são robustecidos por intelectuais, ideólogos, militantes, formadores de opinião. Suas arenas são: imprensa, mídias sociais e mundo acadêmico.

Boaventura (1998) diz qua há um movimento contratualista na 1ª fase (ampliação de direitos e expansão da cidadania) e um pós-contratualista na 2ª fase (redução da cidadania). 

Para Boaventura há um movimento reativo recente com a reorientação para o conflito político, uma vez que ocorre a retirada do direito do outro para a manutenção de seu próprio direito (cobertor está curto).



O texto foi baseado na obra de Vera Cepeda.








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