Milton Santos (1926-2001) |
(Santos, 2006)
QUE É UMA REDE?
Mas o que é uma rede? As
definições e conceituações se multiplicam, mas pode-se admitir que se enquadram em duas grandes
matrizes: a que apenas considera o seu aspecto, a sua realidade material, e uma outra, onde é também levado em
conta o dado social.
Rede=realidade material/dado social/infraestrutura
A primeira atitude leva a uma definição formal, que N. Curien (1988, p, 212) assim retrata: "toda infra-estrutura, permitindo o transporte de matéria, de energia ou de informação, e que se inscreve sobre um território onde se caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação".
Rede=realidade material/dado social/infraestrutura
A primeira atitude leva a uma definição formal, que N. Curien (1988, p, 212) assim retrata: "toda infra-estrutura, permitindo o transporte de matéria, de energia ou de informação, e que se inscreve sobre um território onde se caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação".
Mas a rede é também social e
política, pelas pessoas, mensagens, valores que a frequentam. Sem isso, e a despeito da
materialidade com que se impõe aos nossos sentidos, a rede é, na verdade, uma
mera abstração. Talvez por isso um
geógrafo como Dollfus propõe (1971, p. 59) que o termo de rede seja limitado aos sistemas criados
pelo homem, deixando aos sistemas naturais o nome de circuitos. A verdade, porém, é que uns e outros apenas
são valorizados pela ação humana. (RedesXcircuitos)
O PASSADO E O PRESENTE DAS REDES
Podemos, grosso modo, admitir,
pelo menos, três momentos na produção e na vida das redes. Um largo período pré-mecânico, um
período mecânico intermediário e a fase atual. No primeiro período (pré-mecânico), há, de algum
modo, "império" dos dados naturais; o engenho humano era limitado, às vezes subordinado,
às contingências da natureza. Dentro dessas circunstâncias, as redes se formavam com um largo componente
de espontaneidade.
No segundo momento (mecânico intermediário), cuja
afirmação coincide com os albores (início, começo) da modernidade, as redes assumem o seu nome, mediante o caráter
deliberado de sua criação. O exemplo de Colbert, ministro de Luís XIV, na França, é ilustrativo dessa
vontade explícita de "corrigir" e "melhorar" o território,
por intermédio das redes. O desenvolvimento das
técnicas é uma nova etapa nesse segundo momento. A "rede de etapas"
de que fala A. Gras (1993, p. 26)
ganha unidade funcional com as novas formas de energia.
A fase atual, chamada pós-modernidade, este
período técnico-científico-informacional, marca um terceiro momento nessa evolução. Os
suportes das redes encontram-se, agora, parcialmente no território, nas forças naturais dominadas pelo homem
(o espectro eletro magnético) e parcialmente nas forças recentemente elaboradas pela inteligência e
contidas nos objetos técnicos (por exemplo, o computador .. ). Desse modo, quando o fenômeno de rede se
torna absoluto, é abusivamente que ele conserva esse nome. Na realidade, nem há mais propriamente redes;
seus suportes são pontos.
No primeiro momento (pré-mecânico), as redes
existentes serviam a uma pequena vida de relações. O espectro do consumo era limitado. Exceto para
uns poucos indivíduos, as sociedades locais tinham suas necessidades localmente satisfeitas. Os itens
trocados eram pouco numerosos e as trocas pouco frequentes. A competitividade entre grupos
territoriais era praticamente inexistente, em períodos normais. O tempo era vivido como um tempo lento.
No segundo momento (mecânico intermediário), o consumo se
amplia, mas o faz moderadamente. As modernidades se localizam de modo discreto. O
progresso técnico tem utilização limitada. O comércio é direta ou indiretamente controlado pelo
Estado. Se a respectiva formação socioeconômica se estende além dos oceanos, essa expansão é limitada
a alguns fins. O "mercado mundial" é a soma dos mercados coloniais.
Graças à colonização, o comércio
internacional é "fechado". As redes buscam mundializar-se, e
fisicamente o fazem, mas seu funcionamento é
limitado. As fronteiras são um fato econômico, financeiro, fiscal, diplomático, militar, além de
político.
Pré-mecânico=Espontaneidade
Mecânico intermediário=Caráter deliberado
Fase atual= pós-modernidade
O GLOBAL E O LOCAL
Graças aos progressos técnicos e
às formas atuais de realização da vida econômica, cada vez mais as redes são globais: redes
produtivas, de comércio, de transporte, de informação.,B. Kayser &. Mas a forma mais acabada e eficaz de rede é dada pela atividade financeira
(D. Retaillé, 1992, p. 118; Ch. Goldfinger, 1986) graças à desmaterialização do dinheiro e
ao seu uso instantâneo e generalizado. A noção de rede global se impõe nesta fase da história.
As redes seriam incompreensíveis
se apenas as enxergássemos a partir de suas manifestações locais ou regionais. Mas estas
são também indispensáveis para entender como trabalham as redes à escala do mundo. Conforme
escreveu F. Braudel (1979, p. 57), a partir do movimento privilegiado que desejamos iluminar, podemos
descobrir o movimento global através dos movimentos particulares, já que "todos esses ciclos são
contemporâneos e sincronizados; eles coexistem, estão misturados e somam ou subtraem seus movimentos diante
das oscilações do conjunto".
Através das redes, podemos
reconhecer, grosso modo, três tipos ou níveis de solidariedade, cujo reverso são outros tantos níveis
de contradições. Esses níveis são o nível mundial, o nível dos territórios dos Estados e o nível local. (MEL)
1)O mundo aparece como primeira
totalidade, empiricizada por intermédio das redes. É a grande novidade do nosso tempo, essa
produção de uma totalidade não apenas concreta, mas, também, empírica.
2)A segunda totalidade é o território, um país e um Estado - uma formação socioespacial -, totalidade resultante de um contrato e limitada por fronteiras. Mas a mundialização das redes enfraquece as fronteiras e compromete o contrato, mesmo se ainda restam aos Estados numerosas formas de regulação e controle das redes.
2)A segunda totalidade é o território, um país e um Estado - uma formação socioespacial -, totalidade resultante de um contrato e limitada por fronteiras. Mas a mundialização das redes enfraquece as fronteiras e compromete o contrato, mesmo se ainda restam aos Estados numerosas formas de regulação e controle das redes.
3)O lugar é a terceira totalidade,
onde fragmentos da rede ganham uma dimensão única e socialmente concreta, graças a
ocorrência, na contiguidade, de fenômenos sociais agregados, baseados num acontecer solidário, que é fruto
da diversidade e num acontecer repetitivo, que não exclui a surpresa. As redes são um veículo de um
movimento dialético que, de uma parte, ao Mundo opõe o território e o lugar; e, de outra
parte, confronta o lugar ao território tomado como um todo.
A existência das redes é
inseparável da questão do poder. A divisão territorial do trabalho resultante atribui a alguns atores um papel
privilegiado na organização do espaço. Segundo Martin Lu (1984), esse papel de integração é funcional e
territorial, sendo responsável pela intensificação das especializações, por novas divisões espaciais do
trabalho, maior intensidade do capital, circulação mais ativa de mercadorias, mensagens, valores e pessoas,
maior assimetria nas relações entre os atores.
A palavra poder deve ser aqui reconhecida no sentido que
lhe dão Taylor e Thrift, isto é, a capacidade de uma organização para controlar os recursos necessários
ao funcionamento de uma outra organização.
A REDE E AS DIALÉTICAS NO TERRITÓRIO
Por outro lado, diante da
realidade ao mesmo tempo global e local das redes, a tentação é grande de opor, desse ponto de vista, uma
sociedade local a uma sociedade nacional, um território local ao território nacional e, mesmo, uma formação
socioeconômica local (ou regional) a uma formação socioeconômica nacional.
A configuração pesa
diferentemente nos diversos lugares, segundo seu conteúdo material. É a sociedade nacional, através dos
mecanismos de poder, que distribui, no país, os conteúdos técnicos e funcionais, deixando os lugares
envelhecer ou tornando possível sua modernização.
Através das relações gerais direta ou indiretamente impostos a cada ponto do país, seja pela via legislativa ou orçamentaria ou pelo exercício do plano, a sociedade nacional pesa com seu peso político sobre a parcela local da configuração geográfica e a correspondente parcela local da sociedade, através das qualificações de uso da materialidade imóvel e duradoura.
Através das relações gerais direta ou indiretamente impostos a cada ponto do país, seja pela via legislativa ou orçamentaria ou pelo exercício do plano, a sociedade nacional pesa com seu peso político sobre a parcela local da configuração geográfica e a correspondente parcela local da sociedade, através das qualificações de uso da materialidade imóvel e duradoura.
Sociedade nacional= legislativa, orçamentária e exercício do plano
As decisões nacionais interferem
sobre os níveis inferiores da sociedade territorial por intermédio da configuração geográfica, vista
como um conjunto. Mas somente em cada lugar ganham real significação. O trabalho local depende das
infra-estruturas localmente existentes e do processo nacional de divisão do trabalho nacional.
Os segmentos locais da configuração territorial do país condicionam o processo direto da produção, sua demanda em mão-de-obra, tempo, capital. O trabalho nacional, isto é, as grandes escolhas produtivas e socioculturais, implica uma repartição subordinada de recursos, oportunidades e competências e a submissão a normas geradoras de relações internas e externas.
Os segmentos locais da configuração territorial do país condicionam o processo direto da produção, sua demanda em mão-de-obra, tempo, capital. O trabalho nacional, isto é, as grandes escolhas produtivas e socioculturais, implica uma repartição subordinada de recursos, oportunidades e competências e a submissão a normas geradoras de relações internas e externas.
A sociedade local comanda, sobretudo, os aspectos
técnicos do trabalho local, enquanto é residual e incompleto seu comando sobre os aspectos políticos do
trabalho local, cujo controle se dá em outras instâncias, superiores e distantes. Hoje, o centro de
decisão pode encontrar-se no estrangeiro, no mesmo continente ou em outro.
São as cidades locais que exercem
esse comando técnico, ligado ao que, na divisão territorial do trabalho, deve-se à produção
propriamente dita. Cidades distantes, colocadas em posições superiores no sistema urbano (sobretudo as
cidades globais), têm o comando político, mediante ordens, disposição da mais-valia, controle do
movimento, tudo isso que guia a circulação, a distribuição e a regulação (CDR).
Afirma-se, ainda mais, a
dialética do território, mediante um controle "local" da parcela
"técnica" da produção e um controle remoto
da parcela política da produção.
O resultado é a aceleração do
processo de alienação dos espaços e dos homens, do qual um componente é a enorme mobilidade
atual das pessoas. Aquela máxima do direito romano, ubi pedis ibi pátria (aonde estão os
pés aí está a pátria), hoje perde ou muda seu significado. Mas o direito local
e o direito internacional ainda não
se transformaram, para reconhecer naqueles que não nasceram num lugar, mas nele moram ou trabalham, o
direito de também intervir na vida política desse lugar.
AS REDES, A COMPETITIVIDADE E O IMPERATIVO DA FLUIDEZ
Uma das características do mundo
atual é a exigência de fluidez para a circulação de ideias, mensagens, produtos ou dinheiro,
interessando aos atores hegemônicos. A fluidez contemporânea é baseada nas redes técnicas, que
são um dos suportes da competitividade. Daí a busca voraz de ainda mais fluidez, levando à procura
de novas técnicas ainda mais eficazes. A fluidez é, ao mesmo tempo, uma causa, uma condição e um
resultado.
Criam-se objetos e lugares
destinados a favorecer a fluidez: oleodutos, gasodutos, canais, autopistas, aeroportos,
teleportos. Constroem-se edifícios telemáticos, bairros inteligentes,
tecnopolós. Esses objetos transmitem valor às
atividades que deles se utilizam. Nesse caso, podemos dizer que eles "circulam". É como se,
também, fossem fluxos.
O ritmo que se pede a cada
objeto, para que participe eficazmente da aceleração desejada, supõe que se conheçam de antemão
os tempos de seu uso, as velocidades que se podem alcançar, as frequências que permitem, os
custos respectivos. Daí sua estandardização, que tanto autoriza prever as performances, como as
deixa medir. Sem isso, seria impossível a construção em série de automóveis, navios, aviões, mas
também a edificação das respectivas bases de operação, bombas de gasolina, portos, aeroportos,
adaptados ao novo frenesi (estado de exaltação violenta que põe o indivíduo fora de si; desvario) da velocidade. Os objetos que entram na produção dessas máquinas
complexas são exigentes de novas conquistas científicas no campo da química fina, da biotecnologia,
da cibernética, dos novos materiais.
Uma fluidez que deve estar sempre
sendo ultrapassada é responsável por mudanças brutais de valor dos objetos e dos lugares.
Mas a fluidez é sempre relativa, uma mesma área podendo ser comparada a uma outra ou a um seu
momento anterior.
Entre os agentes econômicos,
impõe distinguir, a partir dos volumes que produzem ou movimentam, entre aqueles que
criam fluxos e aqueles que criam massas, isto é, geram volumes, mas não têm a força de transformá-los em
fluxos.
Não basta, pois, produzir. É
indispensável pôr a produção em movimento. Em realidade, não é mais a produção que preside à
circulação, mas é esta que conforma a produção.
Tudo se passa como se a economia
dominante devesse, incansavelmente, entregar-se a uma busca desatinada de fluidez. Aqueles
que reúnem as condições para subsistir, num mundo marcado por uma inovação galopante e uma
concorrência selvagem, são os mais velozes. Daí essa vontade de suprimir todo obstáculo à livre circulação das
mercadorias, da informação e do dinheiro, a pretexto de garantir a livre- concorrência e assegurar a
primazia do mercado, tornado um mercado global.
Mas a fluidez não é uma categoria
técnica, mas uma entidade sociotécnica. Ela não alcançaria as consequências atuais, se, ao lado
das novas inovações técnicas, não estivessem operando novas normas de
ação, a começar, paradoxalmente,
pela chamada desregulação.
A economia contemporânea não funciona sem um sistema de normas, adequadas aos novos sistemas de objetos e aos novos sistemas de ações, e destinados a provê-los de um funcionamento mais preciso. Na realidade, trata -se de normas constituídas em vários subsistemas interdependentes, cuja eficácia exige uma -vigilância contínua, assegurada por uma legislação mundial, tribunais mundiais e uma polícia mundializada. Ao contrário do imaginário que a acompanha, a desregulação não suprime as normas. Na verdade, desregular significa multiplicar o número de normas.
A economia contemporânea não funciona sem um sistema de normas, adequadas aos novos sistemas de objetos e aos novos sistemas de ações, e destinados a provê-los de um funcionamento mais preciso. Na realidade, trata -se de normas constituídas em vários subsistemas interdependentes, cuja eficácia exige uma -vigilância contínua, assegurada por uma legislação mundial, tribunais mundiais e uma polícia mundializada. Ao contrário do imaginário que a acompanha, a desregulação não suprime as normas. Na verdade, desregular significa multiplicar o número de normas.
A produção da fluidez é um
empreendimento conjunto do poder público e do setor privado. Cabe ao Estado, diretamente ou por
concessões, e aos organismos supranacionais prover o território dos macrossistemas técnicos sem os
quais as demais técnicas não se efetivam: Já as empresas, isoladamente ou associadas, estabelecem redes
privadas, cuja geografia e funcionalização correspondem ao seu próprio
interesse mercantil. É por onde
circulam - não raro de forma exclusiva - as informações, os dados especializados e as ordens que
estruturam a produção. Quando se fala em fluidez, deve -se, pois, levar em
conta essa natureza mista (e
ambígua) das redes e do que eles veiculam.
A fluidez, de fato, é seletiva.
Os próprios agentes econômicos não a utilizam igualmente. Na Inglaterra, 60% do tráfego de
dados são realizados por conta de 300 empresas e na Noruega apenas 25 firmas são responsáveis pela
metade da circulação de dados (Hepworth, 1989, p. 65).
Devemos, assim, distinguir entre a produção de uma expectativa de fluidez, isto é, a criação das condições para sua existência e o uso da fluidez por um agente, isto é, sua efetivação empírica.
Devemos, assim, distinguir entre a produção de uma expectativa de fluidez, isto é, a criação das condições para sua existência e o uso da fluidez por um agente, isto é, sua efetivação empírica.
DISSIPANDO AS AMBIGUIDADES DA NOÇÃO
As redes são virtuais e ao
mesmo tempo são reais. Nesse sentido a primeira característica
da rede é ser virtual. Ela somente é realmente real, realmente efetiva, historicamente válida, quando
utilizada no processo da ação.
As redes são técnicas, mas também
são sociais. Elas são materiais, mas também são viventes, diz D. Parrochia (1993, p. 39), propondo
que se defina o vivente como o fazem A. Lwoff (1969, p. 25) e F. Jacob
(1970, pp. 87-145), quando estes
o consideram como um sistema de ordem dupla, a o mesmo tempo estrutural e funcional.
Animadas por fluxos, que dominam
o seu imaginário, as redes não prescindem de fixos - que constituem suas bases técnicas -
mesmo quando esses fixos são pontos. Assim, as redes são estáveis e, ao mesmo tempo, dinâmicas. Fixos e
fluxos são intercorrentes, interdependentes. Ativas e não-passivas, as redes não têm em si mesmas seu
princípio dinâmico, que é o movimento social.
Esse movimento tanto inclui
dinâmicas próximas locais, quanto dinâmicas distantes, universais, movidas pelas grandes
organizações. Ao mesmo tempo globais e locais, as redes também são unas e múltiplas e "o singular é
imediatamente plural", diz D. Parrochia (1993, p. 6). A unidade primeira é
dada pelo mundo, que também nos dá a
pluralidade, pelas suas formas diversas de realização, isto é, de funcionalização e historicização.
Segundo J. Ellul (1977, p. 123),
"o regionalismo é um produto da sociedade técnica, apesar das aparências contrárias segundo as
quais a técnica é sempre centralizadora [...]", ou, como escreve Edgar Morin (1965, p. 71) "o mundo
em via de homogeneização, de unificação e de organização, ao mesmo tempo está em via de heterogeneização,
de desorganização, de conflitos e de crise".
O alargamento dos contextos
possibilitado pela eficácia das redes torna também possível aquilo que Marx previra quanto ao uso do
território: a diminuição da arena da produção e o alargamento de sua área. Os progressos técnicos e
científicos permitem produzir muito mais utilizando uma porção menor de espaço, graças aos enormes ganhos
de produtividade. Esses mesmos progressos, que incluem as tele- comunicações, permitem um
intercâmbio ainda mais eficaz sobre áreas mais vastas.
É sobre essa base que se edificam, ao mesmo tempo, a divisão social do trabalho, que reparte, e a cooperação, que unifica. As redes são, pois, ao mesmo tempo, concentradoras e dispersoras, condutoras de forças centrípetas e de forças centrífugas. É comum, aliás, que a mesma matriz funcione em duplo sentido. Os vetores que asseguram à distância a presença de uma grande empresa são, para esta, centrípetos, e, para muitas atividades preexistentes no lugar de seu impacto, agem como fatores centrífugos.
Mediante as redes, há uma criação
paralela e eficaz da ordem e da desordem no território, já que as redes integram e
desintegram, destroem velhos recortes espaciais e criam outros. Quando ele é visto pelo lado exclusivo da
produção da ordem, da integração e da constituição de solidariedades espaciais
que interessam a certos agentes, esse fenômeno é como um processo de
homogeneização. Sua outra face, a heterogeneização, é
ocultada. Mas ela é igualmente presente.
O fato de que a rede é global e
local, una e múltipla, estável e dinâmica, faz com que a sua realidade, vista num movimento de conjunto, revele a superposição de vários sistemas lógicos, a mistura de várias racionalidades cujo ajustamento,
aliás, é presidido pelo mercado e pelo poder público, mas sobretudo pela
própria estrutura socioespacial.
A geografia deve trabalhar com
uma noção de espaço que nele veja uma forma-conteúdo e considere os sistemas técnicos
como uma união entre tempo e matéria, entre estabilidade e história. Desse modo, superaremos as dualidades
que são, também direta ou indiretamente, as matrizes da maior parte das ambiguidades do discurso e do
método da geografia.
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