Teoria dos movimentos sociais

Resenha do livro da autoria Maria da Glória Gohn
Maria da Glória Gohn


A abordagem clássica sobre os movimentos sociais é estudada nos EUA por  cinco grandes correntes:

1-Escola de Chicago e os intereacionistas- Concebeu a primeira teoria sobre os movimentos sociais (Herbert Blummer)

A criatividade dos indivíduos era um dos pressupostos básicos da escola e a interação entre indivíduo e a sociedade era o enfoque. Desse modo, a mudança social passava pela perspectiva de reforma social. As lideranças teriam que desempenhar o papel de reformadores sociais até que não fossem mais necessários.

Os movimentos seriam resultado dos conflitos gerados entre as multidões. Mas este resultado deveria ser equacionado pelos líderes. Suas tarefas seriam desmobilizar o conflito transformando-os em instituições sociais por meio do equacionamento das demandas em questão.


 2-A sociedade de massas (Eric Fromm e Hoffer), que via os movimentos como formas irracionais de comportamento e os considerava antimodernos.
Os comportamentos coletivos como resultado de ações advindas de participantes desconectados das relações  em ações normais e tradicionais. A corrente é mais preocupada com o comportamento coletivo das massas, vendo-o também como fruto da anomia e das condições estruturais de carência e privações.

"Os indivíduos são capazes de tanto de atos de heroísmo como de barbárie, pois em episódios em que predomina a espontaneidade das massas há sempre violência, o que os leva a perder o uso da razão crítica". Os movimentos eram desenhados pelo desejo de pessoas marginalizadas de escapar para a liberdade, dentro de novas identidades e utopias.


3- Abordagem sociopolítica (Lipset e Herbele), que articulava as classes e relações sociais de produção na busca do entendimento tanto dos movimentos revolucionários  como da mobilização partidária, do comportamento diante do voto e do poder político.

Para os defensores, os movimentos sociais são um tipo especial de grupo social com uma estrutura particular. Eles conteriam grupos organizados e não-organizados. Haveria critérios para a ação de um grupo ser movimento social:
-consciência grupal;
-sentimento de pertença ao grupo;
-solidariedade e identidade.

Os movimentos teriam duas funções:

a)formação da vontade comum ou da vontade política de um grupo;

b)recrutamento das elites políticas. Os movimentos seriam sintomas de descontentamento   dos indivíduos com a ordem social. vigente e seus objetivos principais seriam a mudança dessa ordem. 

Em determinadas condições eles poderiam tornar-se um perigo para a própria existência dessa ordem social. Só lembrando que o senso de comunidade é o fundamento de uma ordem social.

4-Funcionalismo (Parsons), defende que os comportamentos coletivos são originados em períodos de inquietação social, de incerteza, de impulsos reprimidos, de ações frustradas, de mal-estar, de desconforto.

As condições que propiciaram a emergência  dos movimentos sociais seriam de três ordens: 

1-cultural (mudança de valores);

2-social (desorganização e descontentamento);

3-política (injustiça social).

5-Teorias organizacionais-comportamentalistas (Selzinick, Gusfield e Messinger), buscou na produção de Weber (burocracia) e na de Michells (lei de ferro das oligarquias) os fundamentos para entender os comportamentos coletivos agrupados em organizações com objetivos específicos.
Todas as formas de organização, independentemente  de quão democráticas tenham sido no começo, irão eventualmente e inevitavelmente desenvolver tendências oligárquicas , assim fazendo a verdadeira democracia praticamente impossível.

Dividiu os movimentos em três categorias:

A- de classe (organizam-se instrumentalmente em torno de um interesse da sua clientela);

B-de status (voltados para si próprios para alcançar ou manter prestígio);

C-expressivos ( são marcados por comportamentos menos objetivos ou pela procura de metas relacionadas com descontentamentos).

Movimentos sociais no Brasil


A maioria dos estudos realizados no Brasil sobre os movimentos sociais foram nos anos 80; no anos 90 houve um declínio do interesse pelo estudo. 

Fases:

No final dos anos 70 os movimentos sociais populares urbanos vinculavam  às práticas da Igreja Católica, na ala articulada à Teologia da Libertação.

No início dos anos 80, o campo popular começou a indagar e outros tipos de movimentos (mulheres, negros, ecológicos, índios) vieram a alterar o cenário.

O denominador comum nas análises dos novos movimentos sociais no Brasil foi a abordagem culturalista, em contraposição à marxista presente com mais força na análise dos movimentos populares. Ou seja, se priorizou as questões da construção da identidade coletiva dos grupos e a deixar as questões das contradições urbanas, dos meios coletivos de consumo etc, totalmente de lado.

Nos anos 90 as ONG's quase substituíram os movimentos sociais  e os grupos organizados dessas demandas foram se enclausurando em guetos corporativistas. 

Essas alterações irão desembocar na perda da capacidade de mobilização e do esforço    voluntarista que se observava na sociedade civil dos anos 70. Acrescente-se a isso a decepção da sociedade civil com a política.

Os anos 90 enfatizarão duas categorias de análise: 

1-cidadania coletiva (pensar o exercício da cidadania em termos coletivos, de grupos e instituições que se legitimaram juridicamente a partir de 88 onde o lugar da participação está inscrito nas leis);

2-exclusão social ( decorrente  das condições socioeconômicas que passam a ser imperativas, causadoras de restrições e situações de violência generalizada, desagregação da autoridade estatal, surgimento de estruturas de poder paralelo).



Comentários