O neorrealismo neoschmittiano

Para Schmitt, soberano é aquele que decide sobre o Estado de exceção. Ele não vê na concepção liberal de estado de sítio e estado de emergência como suficientes para definir o estado de exceção; é no estado de necessidade que ele se mostra, pois há uma situação especial onde a lei perde os seu caráter obrigatório

 Por Welliton Resende
Carl Schmitt (1888-1985)


Há duas ideias levantadas no trabalho de Schmitt que merecem atenção na nossa sociedade multicultural decretada pelas “elites”.

Em «The Concept of the Political» Schmitt explica que a distinção amigo/inimigo é uma característica necessária de todas as comunidades políticas.

De fato, o que define o “político” por oposição a outras atividades humanas é a intensidade de sentimento em relação a amigos e inimigos, ou em relação aos nossos e àqueles percebidos como forasteiros hostis. 

Este sentimento não deixa de existir na ausência de Estados-nação. Schmitt argumenta que a distinção amigo/inimigo caracterizara as antigas comunidades e persistiria provavelmente no ambiente cada vez mais ideológico no qual os Estados-nação fossem enfraquecendo. O sistema europeu de Estados, a começar no final da guerra dos 30 anos, havia de fato prestado um serviço de controle sobre o “político”.

O subsequente ataque a esse sistema de Estados-nação, com os seus específicos e limitados interesses geopolíticos, tornou o mundo ocidental mais fervorosamente político, um ponto que Schmitt desenvolve no seu magnum opus (grande obra) do pós-guerra «Nomos der Erde» (Nomos da Terra). 

A partir da Revolução Francesa cresceu o número de guerras travadas em nome de doutrinas morais – mais recentemente clamando a defesa dos “direitos humanos”. Essa tendência replicou os erros da idade das guerras religiosas.

Transformou a força armada de meio para alcançar objetivos territoriais limitados, quando os recursos diplomáticos falham, numa cruzada pelo bem universal contra um inimigo diabolizado.

Uma ideia relacionada tratada por Schmitt é a tendência em direção a um Estado Universal (a Nova Ordem Global?). Essa tendência parecia proximamente ligada à hegemonia anglo-americana, um tema que Schmitt abordou nos seus comentários durante e depois da II Guerra Mundial.

Os americanos aspiram a um Estado Mundial porque reclamam validade universal para o seu modo de vida. Eles veem a democracia liberal como algo que estão moralmente obrigados a exportar. São conduzidos pela ideologia como pela natureza do seu poder em direção a uma distinção amigo/inimigo universal.

Schmitt acabou por recear o globalismo americano mais que o seu congênere soviético, que considerou ser despotismo militar primitivo aliado a uma obsessão intelectual ocidental.

No final recebeu com agrado a bipolaridade da guerra-fria, vendo no poder soviético um meio de limitar as cruzadas americanas pelos “direitos humanos”.

Um conhecedor crítico do expansionismo americano, Schmitt compreendeu o agora indisfarçável caráter ideológico da política americana.

A experiência imperialista acarretou desigualdades gritantes e violências mortíferas. Tudo isso ficou impune porque sempre prevaleceu "a justiça dos vencedores", isto é, que se aplica aos vencidos, aos fracos e aos povos oprimidos.

Segundo Zolo,  devemos superar o maniqueísmo  trágico que assumiu a forma segurança versus barbárie na configuração totalitária de um império global. "O poder dos EUA é um poder imperial", afirmou.


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