Corrupção nossa de cada dia




Por Nathalie Coutinho Pereira*

Enraizadas na sociedade brasileira, as pequenas corrupções são praticadas constantemente no nosso dia a dia. Por serem muitas vezes despercebidas e rotineiras, acabaram sendo aceitas culturalmente.

Considera-se, portanto, que não se trata apenas de desvirtuamentos éticos, mas sim de condutas, que em sua maioria são configuradas também como ilegais. Exemplos clássicos estão sendo divulgados pela página do facebook da CGU, dentre outras atitudes, temos:

COMPRAR PRODUTOS FALSIFICADOS: Corrupção nossa de cada dia, em que além de ser antiética, estamos sujeitos as sanções penais, pois a violação de direito autoral é produto de crime.

NÃO DAR NOTA FISCAL: Corrupção nossa de cada dia, em que o simples ato de não entregar e, principalmente de não cobrarmos estaremos facilitando a lesão ao fisco.

FALSIFICAR ASSINATURAS: Corrupção nossa de cada dia, conduta antiética e ilícita por ser considerado crime de plágio.

ROUBAR TV A CABO: Corrupção nossa de cada dia, conhecido como gato, constituindo-se de um ato ilícito por ser equiparado como o crime de subtração a coisa alheia móvel.

APRESENTAR ATESTADO MÉDICO: Corrupção nossa de cada dia que se enquadra em crimes de falsidade ideológica e falsidade de atestado médico por quem entrega e uso de documento falso por quem utiliza.

Inúmeras outras pequenas corrupções são praticadas corriqueiramente, tendo a gravidade, muitas vezes, ignorada pelo meio social. Continuamos com tais condutas, sem perceber que independente do grau, estamos prejudicando a sociedade, apesar das grandes corrupções tomarem maiores proporções.

O que vemos atualmente é que ao se falar de corrupção associamos impulsivamente a classe politica, desconsiderando que no anonimato procedemos também com deslealdade e desrespeito com os nossos semelhantes: jogamos lixo na rua, furamos fila, aceitamos troco errado etc. A corrupção não está limitada apenas ao ambiente público, este é apenas reflexo do que temos visto no nosso dia a dia.

Devemos ter um posicionamento diferente em relação a nossa corrupção rotineira, observando que tais atitudes interferem nas relações sociais, transformando-se num ciclo vicioso, trazendo prejuízos econômicos e morais. Situação que está gerando um ambiente social, cuja convivência aos poucos torna-se insuportável e a desconfiança passa a ser o lema da sobrevivência.

E, enquanto a corrupção acentua-se de forma significativa no nosso dia a dia...

Como vamos cobrar a mudança do contexto corrupto praticado em todas as esferas dos poderes?

Como vamos pedir uma revolução de valores e princípios éticos e morais?

Como vamos exigir uma metamorfose radical das consciências dos cidadãos, se todos nós o somos?

Praticar e aceitar pequenas corrupções autorizam a permanência das grandes corrupções. Costumamos atirar pedras no politico desonesto e, no anonimato procedermos com igual falta de escrúpulos com os nossos semelhantes. Isso é o que caracteriza-se como falta de educação para a ética e a cidadania. Valores que passam a ser banalizados, porque ninguém os ensina.

A educação é a única alternativa capaz de transformar essa realidade. Através do processo de conscientização e, principalmente do engajamento nas instituições escolares é que teremos um resultado, mesmo que a longo prazo.

Não é preciso apenas acreditarmos, é preciso atitude. Entendermos que a nossa corrupção de todo dia é uma cultura que legitima as maiores corrupções. Entendermos que nós mesmos é que somos a resposta para as nossas próprias perguntas no que refere-se aos problemas sociais existentes no nosso país. Entendermos que deve haver primeiramente uma mudança no nível micro.

Felizmente o nosso estado já deu o primeiro passo, uma pequena e importante iniciativa para tentar combater essas condutas. A inserção da palestra “As pequenas corrupções do dia a dia” na programação das capacitações realizadas nos municípios através do Curso de Controle Social e Cidadania está sendo um avanço, efetivado a partir da repercussão surpreendente na página do facebook da CGU acerca da temática. Contemplar tal assunto só tem a contribuir para o lindo projeto desenvolvido pela equipe. Apesar de que por enquanto, apenas alguns municípios foram beneficiados com a nova ação, acredita-se no alcance de um grande sucesso em todos os que forem contemplados no decorrer do curso.

Me sinto feliz por ter sido uma das privilegiadas em ministrar a palestra, representando Matões, município que trabalho e a primeira cidade a receber o curso com a nova programação. Experiência inesquecível, que me levou a evidenciar a importância de se promover no evento a reflexão sobre as pequenas práticas corruptas e seus reflexos na sociedade. Esperando a disseminação do assunto nos mais variados ambientes sociais por aqueles que tiveram presentes e que participavam com tamanha atenção e interesse.

Agradeço ao coordenador Welliton Resende pela oportunidade.

Com fé, coragem, determinação, dedicação, atitude e mobilização, acredito que um dia não viveremos, mas veremos de algum lugar nossas gerações vindouras usufruindo de serviços públicos de qualidade. Veremos um país de oportunidades e de igualdade. Veremos um sistema diferenciado, em que as relações sociais serão mais saudáveis e desinteressadas. Assim, veremos a valorização do “ser” substituído do “ter”, a essência preponderando sobre a aparência.

E, finalmente no último tijolo daquela construção que falaste Weliton. Sabe o que vai acontecer? Todos indagarão uns aos outros e a si mesmos o porquê de ainda existir órgãos de controle e de prestações de conta, se a sociedade já alcançou a verdadeira coexistência pacifica e todos os seres já haviam resgatados o mais puro dos princípios da natureza humana: A HONESTIDADE.

E nós, querido Weliton, de algum lugar renasceremos só para ter a certeza que todos os sonhos, por mais utópicos que eles aparentam, um dia eles se realizarão. E o único sonho vivido será o nosso, pois estaremos colhendo o que plantamos num futuro que só a Deus pertence.



Nathalie é caxiense, professora e pesquisadora.
 

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