A má qualidade na educação brasileira, uma questão econômica

Escola pública em Pindaré-MA
Por Leonardo Valles Bento*

A má qualidade da educação não é causada pelo pouco investimento público no setor. Nunca se investiu tanto em educação e o investimento aumenta ano após ano. O problema da má qualidade da educação brasileira não é educacional, é econômico.

Vou partir do princípio de que a função de um sistema nacional de ensino é formar mão-de-obra para o mercado de trabalho. Assim, a primeira pergunta é: quais são os postos de trabalho que a nossa economia oferecesse aos egressos do sistema de ensino?

O fato é que nós somos uma economia de bens primários. Produzimos café, soja, suco de laranja e minério de ferro. Numa palavra: commodities. Não somos uma economia de uso intensivo de conhecimento.

Sendo assim, por mais triste que seja reconhecer, a nossa economia não tem necessidade de gente altamente qualificada. Vão trabalhar onde? Os mais bem qualificados acabam saindo do país. O Brasil exporta suas melhores cabeças, porque não há emprego para eles aqui. Um torneiro mecânico formado no SENAI consegue emprego mais rápido do que um especialista de alto nível. Somos uma economia SENAI.

Pensem bem: os maiores interessados em uma educação de qualidade são os empresários. São eles que, por assim dizer, "consomem" a mão-de-obra produzida pelo sistema de ensino. Portanto, deveriam ser eles a pressionar o governo por uma melhoria na qualidade.

Se eles não fazem isso, é porque estão perfeitamente satisfeitos com o nível dos profissionais que encontram no mercado. O que os nossos empresários gostam mesmo é de profissionais formados no SENAI.

A educação não vai melhorar só porque os educadores querem. Nem porque nós achamos "legal" sermos bem qualificados. A educação só vai melhorar quando for economicamente necessário que ela melhore. O sistema nacional de ensino não existe no vazio; ele é parte do sistema econômico, e normamente vai a reboque dele.

Aqueles que costumam citar a Índia e a Coreia do Sul, como exemplos de países emergentes que deram saltos de qualidade em seus sistemas educacionais, se esquecem de dizer que esses países fizeram uma opção por um modelo de desenvolvimento baseado na produção de tecnologia, optaram por produzir bens e serviços que usam conhecimento de forma intensiva. Foi em razão dessa opção que a educação foi forçada a melhorar, a fim de suprir esses mercados com a mão-de-obra necessária.

Se o Brasil quer melhorar a qualidade da educação, deve começar por um projeto de desenvolvimento, que mude a nossa matriz produtiva em direção a produtos de alto valor agregado, com uso intensivo de tecnologia.

A educação não vai melhorar sozinha, nem só porque a gente quer e acha "bonitinho".


Leonardo é auditor da CGU e doutor em Direito.

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