Carta aberta dos servidores da CGU à sociedade maranhense
Após inúmeros dias acompanhando o que vem sendo publicado em blogs maranhenses, acerca do assassinato do jornalista Décio Sá e dos desdobramentos do caso, nós, Servidores da Controladoria-Geral da União no Maranhão (CGU/MA), vimos, em carta aberta, por meio do nossa entidade de classe, prestar informações isentas à sociedade do Estado a respeito das atividades desenvolvidas e operacionalizadas pela CGU. Haja vista que insinuações maliciosas de setores da mídia eletrônica local tentam vincular, de modo infundado, a referida instituição aos esquemas de corrupção e agiotagem que assolam nosso estado.
Hostilizam os órgãos de controle do
Estado. Tentam descredenciar ações realizadas pela Controladoria-Geral
da União (CGU), pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia
Federal (PF), com intuito de fazer crer que os indiciados são vítimas,
mas cometem o erro básico de revelar suas digitais, pois deixam
transparecer mecanismos de defesa, como hostilidade, projeção,
desassociação e racionalização.
Incomodados pelos trabalhos que a CGU
vem realizando no Estado, grupos expelidos da gestão de recursos
públicos, a partir de ações da CGU, agora se utilizam de alguns blogs
para atacar e depreciar a CGU/MA. Montaram uma estratégia, que à
primeira vista parece perfeita – mas só parece – pois o raciocínio
engendrado é de uma linearidade infantil e os argumentos que o sustentam
de uma pobreza pueril. A tese confeccionada por eles é a seguinte: há
provas mais que suficientes – nenhuma apresentada nos blogs, repita-se –
que o Delegado de Polícia Federal, Pedro Meireles, que esteve à frente
da Unidade Especial de Investigações de Desvio de Recursos Públicos
(UDRP/SR/DPF/MA) está envolvido em chantagens, extorsões e agiotagem; o
delegado trabalhou em diversas operações com a CGU/MA, então é certo que
servidores da CGU/MA estão enredados em chantagens, extorsões e
agiotagem. É de se antever os próximos capítulos, em suas duas possíveis
versões, “aguardem …”. “Membros do Ministério Público Federal e
do Poder Judiciário estão seriamente implicados nas ações ardilosas do
delegado e de servidores da CGU/MA, ou foram por estes ingenuamente
operados”.
Aqui, portanto, cabem algumas
explicações a toda sociedade do que é a CGU e como são conduzidos seus
trabalhos. A CGU é o Órgão Central do Controle Interno do Poder
Executivo Federal. A ela compete a fiscalização contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da
administração. Inclui-se, nesse bojo, avaliar e acompanhar os Programas
Federais cuja execução é descentralizada a outros entes federativos
(estados e municípios), como é o caso da merenda e transporte escolar,
farmácia básica e saúde da família, entre outros.
Para tanto, a CGU está estruturada em
quatro grandes áreas: prevenção, correição, ouvidoria e auditoria,
cabendo a esta última a maior parte das atividades do órgão. Por seu
turno, as ações de auditoria são realizadas para examinar a correta
aplicação dos recursos públicos federais por qualquer entidade que os
utilize e para dar conta de demandas externas de órgãos como Tribunal de
Contas da União, Ministérios Públicos Federal e Estaduais, da
Advocacia-Geral da União e da sociedade civil em geral.
Todas as demandas de serviço são geradas
pelo Órgão Central, em Brasília, nenhuma Regional é capaz de gerar sua
própria demanda. Além disso, todos os trabalhos, depois de executados,
são submetidos à revisão do Órgão Central. Mesmo aqueles que não
deságuam em operações policiais, mas que de igual eficácia, geram
relatórios e notas técnicas são enviados aos órgãos acima citados para a
adoção das providências cabíveis.
No Maranhão, visto a recorrente prática
de gestores de órgãos e entidades municipais, estadual e federal de
desviar recursos públicos para atender a interesses particulares,
resultou, nos últimos anos, em várias operações que levaram à prisão
prefeitos, secretários, assessores, membros de comissões de licitação,
presidentes de instituições públicas, pseudo-empresários, entre outros.
Tais ações foram planejadas e executadas a partir do trabalho conjunto
de servidores da CGU, MPF e DPF. Saliente-se que, nas operações
especiais, os controles externos à CGU ampliam-se, pois contam com a
dupla jurisdição do Ministério Público e do Poder Judiciário.
O julgamento profissional é essencial para a condução apropriada dos trabalhos auditoriais, é a praxe.
No entanto, os auditores da CGU – assim como os demais auditores nas
esferas pública e privada – se orientam por um conjunto de procedimentos
e normas técnicas, exigências éticas e profissionais. As constatações
apontadas são sustentadas por evidências documentais, físicas,
testemunhais, periciais, etc.
Os trabalhos pautam-se pelo princípio da
impessoalidade, sempre executados por equipes de servidores da CGU e,
nos casos de operações conjuntas, da Polícia Federal. Tanto as equipes,
como a coordenação das mesmas são renovadas constantemente por novos
servidores. O mesmo princípio se aplica às chefias da CGU, que se
caracterizam por mandatos temporários em sistema de rodízio. Assim, o
trabalho se torna institucional.
Cite-se os trabalhos que resultaram na
denominada “Operação Donatário”. A materialidade encontra-se no montante
de mais de 538 milhões de reais remetidos à Superintendência Regional
do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA/MA), no
período de 2005 a 2009, para execução do Programa de Crédito de
Instalação e daí a auditoria realizada pela CGU. As circunstâncias
relevantes envolveram riscos potenciais relacionados às denúncias de
pagamentos sem a execução das obras, ausência de licitações na
contratação e o consequente direcionamento para empresas, à inexistência
de requisitos a serem atendidos pelas construtoras, ao excesso de
responsabilidades atribuídas a pessoas com baixo grau de qualificação
técnica (Presidentes das Associações), e ao pagamento ser realizado por
material fornecido e não por unidade habitacional pronta. Os auditores
da CGU realizaram vistoria em 25 associações de 17 projetos de
assentamentos, fizeram relatórios fotográficos, análises documentais e
entrevistas com mais de 300 supostos beneficiários, o que confirmou a
denúncia.
Como se vê, não houve direcionamento
para este ou aquele agente, pró ou antigoverno, deste ou daquele grupo
político ou empresarial, senão na cabeça daqueles que não esperavam – e
não desejavam – ações de controle sobre os recursos públicos que gerem.
Outro exemplo foi a “Operação Usura”,
que teve como município alvo São João do Paraíso/MA, e dentre os crimes
ora apurados também está o de agiotagem.
São João do Paraíso/MA foi sorteado no
30º Programa de Sorteio Público de Estados e Municípios. Um parêntese – o
Programa utiliza o mesmo sistema de sorteio das loterias da Caixa
Econômica Federal (CEF) para definir, de forma absolutamente isenta, a
base municipal a ser auditada. A CGU/MA mantém com o Ministério Público
do Estado do Maranhão (MPE/MA), com o Tribunal de Contas do Estado do
Maranhão (TCE/MA) e com outros órgãos, Termos de Cooperação Técnica, que
permitem o recebimento de informação desses, para a consecução dos seus
trabalhos. In loco, naquele município, a equipe da CGU recebeu
da Promotoria de Justiça de Porto Franco/MA informações da existência
de dois processos que apuravam improbidade administrativa praticada por
agentes públicos municipais.
Os termos de depoimentos prestados à
Promotoria daquela Comarca apontavam para operações de agiotagem,
envolvendo recursos da saúde e da educação e, nesse contexto, o trabalho
da CGU foi essencial para aprofundar as ações iniciadas pela
Promotoria. O procedimento que resultou na “Operação Usura” acabou sendo
feito a quatro mãos, diga-se: CGU, MPF, PF e MPE/MA, e, portanto, sendo
impossível haver direcionamento, ou escolha deste ou daquele grupo de
agiotagem, como querem fazer crer os envolvidos. As provas do que foi
inicialmente apurado pela Promotoria e aprofundado na auditoria da CGU
constam dos autos e incluem cópias de cheques, informações de
movimentações financeiras, notas fiscais inidôneas, montagens de
processos licitatórios, certidões falsas, relatório com registros da
verificação física de obras, etc.
Agora, apavorados com a proximidade das
eleições e do porvir, há um grupo articulado contra a CGU/MA e disposto
a imprimir toda sua influência midiática para descaracterizar a lisura
dos trabalhos auditoriais realizados pelo Órgão. Neste sentido, associam
fotos a textos desconexos, levantam hipóteses, no mínimo infundadas e
levianas, projetam macular a imagem de servidores de caráter – enfim
tentam intimidar. Fiam-se na máxima nazista: “uma mentira dita cem
vezes, torna-se verdade um dia”.
Creiam, não nos vemos como vítimas.
Somos maduros o suficiente para compreendermos o que está por trás dos
“fatos criados”. Mais que isso, esperávamos – embora não desejássemos –
uma reação dessa natureza, tendo em vista o solapamento que as nossas
auditorias causaram às carcomidas estruturas de corrupção há muito
encravadas na máquina pública. No entanto, resistir é a medida do
caráter daqueles que se propõem a seguir na carreira de auditoria
governamental.
Como auditores, nos guiamos pelo
ceticismo, não mantemos pacto com a mediocridade e nem com a
parcialidade. Então nos apresentem as provas de direcionamento dos
trabalhos da CGU/MA, de envolvimento de servidores do Órgão em
chantagens, extorsões e agiotagem. Se sabem da participação de
servidores da CGU/MA em atos ímprobos, é um favor-dever que têm para com
a sociedade denunciar tais agentes e seus atos nominalmente.
E para
casos dessa natureza, como dito, a CGU conta em sua estrutura com uma
Corregedoria, que nos últimos nove anos expulsou mais de 3.600
servidores públicos envolvidos em ilicitudes, inclusive 25 lotados na
própria Presidência da República. No entanto, se se escondem atrás de um
falso jornalismo, sem compromisso com a verdade dos fatos, movidos por
interesses pessoais e políticos, prestam um desserviço à sociedade e às
instituições.
Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle – Delegacia Sindical do Maranhão (UNACON/MA).
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