Maria Aragão, a menestrel de um povo



Por Thaís Moraes Correia


Destaca-se na vida política maranhense Maria José Camargo Aragão, conhecida como Maria Aragão, maranhense, médica, que apesar de ter iniciado sua carreira como pediatra, é como ginecologista que se sobressai. É na área da política que Maria Aragão se destaca enfrentando a ditadura militar e  mantendo- se firme em seus ideais comunistas, período em que é torturada e presa e sofreu mutilação em seus mamilos. Também não cobrava a seus pacientes não por caridade mas por solidariedade vivendo em um dos estados mais pobres do Brasil em um período em as mulheres não tinham vez nem voz.

Oscar Niemayer presta-lhe homenagem ao fazer uma praça em São Luís com seu nome. Maria Aragão fez história como líder do Partido Comunista do Brasil no Estado do Maranhão. Formou-se em medicina pela Universidade do Brasil, do Rio de Janeiro. Isto também era raro na sua época. Sua história tem origem na extrema pobreza, mas ela logo parte em busca da superação da fome e do preconceito (por ser negra e mulher no inicio do seculo passado).

Dotada de um grande senso de liderança, enfrentou as oligarquias políticas, em pleno regime militar na década de 60, e sofreu, como já falado acima acirradas perseguições promovidas pela ditadura. Através da medicina, Maria Aragão entregou-se às causas sociais, lutando por uma sociedade justa e igualitária. Foi uma eterna defensora das bandeiras libertárias continua a ser referência para a luta popular do Maranhão.

Tanto o ato político como o analítico “são filhos da ocasião que foi aproveitada” e Maria Aragão soube aproveitar o “pulo do leão que só salta uma vez” para subverter a ordem estabelecida e fixar novas coordenadas na vida política deixando assim sua marca de uma mulher altiva e corajosa. Afinal naquela época, política no Maranhão era coisa de “macho”, e mulher não se metia. Ela mesma de forma jocosa se intitulava de mulher “porreta”, que tanto podia ser uma insígnia fálica pois muitos a criticavam pela sua postura que a colocava para além de seu tempo.

Atos políticos são atos de fala e Maria Aragão não tinha “papas na língua”, o que podia ser comparado à regra analítica de “diga tudo o que vier à sua cabeça”, falando sem medo o que pensava e sustentava as conseqüências de seus atos com coragem e determinação. O sujeito político é movido por uma causa e no caso de Maria Aragão ela fez política beneficiando outras mulheres de forma singular; o que era considerado um objetivo inalcançável naquele período de trevas. Ela realmente lutou pelos direitos das mulheres, abrindo um caminho inédito na política maranhense.

Dentre as bandeiras sustentadas defendia o respeito aos direitos básicos, como alimentação, saúde, educação e moradia. O interessante é que não se colocava na posição de “salvadora” tão comum aos coronéis e nisto subverteu a política de seu sintoma. É difícil dizer o que mudou no plano social, mas Maria foi uma mulher que experimentou essa possibilidade.

O político é um militante do todo, onde o saber completo e controle absoluto estão unidos. No caso de Maria por ser mulher se colocava como não-toda, pois era também com delicadeza que defendia suas opiniões, pois dirigia-se às crianças e a outras mulheres tratando-as com zelo, mas também ouvindo-as acerca da dor que padeciam. Aqui não se trata do feminino como gênero, mas de encontrar um jeito feminino de fazer política nos anos 60.

Tive a chance de conhecê-la pois meu consultório era ao lado de onde ela morava. Ali, já alquebrada pela idade avançada, ela recebia seus pacientes gratuitamente, até a sua morte. Gostava de uma boa prosa e ouvia a todos tratando cada caso como único. Escuta apurada e gestos firmes eram sua marca registrada.

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