segunda-feira, 16 de julho de 2012

Ligações perigosas


Por Magdala Domingues Costa

 A Literatura é uma das mais elevadas manifestações do Espírito Humano, exatamente porque capta o clima de cada época.

Quando em 1782, Choderlos de Laclos publicou seu romance epistolar “As ligações perigosas” (Les liasons dangereuses), possivelmente haverá ocorrido um destes fenômenos incompreensíveis no campo racional, somente explicáveis pela paranormalidade, tantas as semelhanças com os signos mais profundos do espetáculo de indignidades a que assistimos em nosso país no alvorecer do século XXI.

No cenário de 1782, nobres sem escrúpulos, mergulhados na abjeção moral que o cinismo costuma impingir a seus adeptos, manipulam e humilham as restantes personagens através de jogos de sedução e intrigas.

Maquiavelismo erótico à parte, o retrato da libertinagem vigente, a promiscuidade entre membros da aristocracia decadente, imediatamente anterior à Revolução Francesa, pode facilmente ser transposto para o Brasil atual, onde episódios de deboche agora chegam ao ápice. Uma olhadela rápida pelas manchetes confirmará esta assertiva.

No caso brasileiro auferem espertamente os lucro$$ de “enredo$”, sempre através de “laranjas” e/ou artifícios sofisticados, escapando aos mecanismos legais de controle e punição de seus atos torpes.

Respinga lodo por toda parte e o dinheiro público escorre pelo ralo das negociatas, abundante e irresponsavelmente.

Algumas personagens repetem-se, ad aeternum, deslizando solertes e elegantes pelos corredores do Congresso Nacional, desvãos do Executivo e, lástima, até do Judiciário, como tristemente informam as mesmas manchetes e as operações “Hurricane” (a picaretagem requinta-se e o inglês substitui o idioma de Camões) “Navalha”, “Xeque-Mate”, “O rei do gado” etc.sucedem-se inócuas.

Ainda nem desbotaram em nossa retina as montanhas de dinheiro vivo Lunus, Aloprados, Valerioduto e Sanguessugas e somos impregnados por novos miasmas repulsivos: “Vavá”, a “ação entre amigos” que se desenvolve no Senado Federal etc.

A desvairada cobiça, a certeza da impunidade, o sentir-se protegidos por movimentos corporativistas, acima da Lei, envolvem os espíritos apequenados, expondo em cifras sua fragilidade moral, medida pelos valores que se atribuem nos balcões de negócios onde despudoradamente se vendem.

Não me escandaliza a corrupção em si, pois que esta, há muito se entranhou no meio político. O que me choca no contexto atual é o “capital de giro” das transações.

Aonde chegaremos nesse caminhar? Nem o oráculo de Delfos ousaria prever. Pasmada, como a maioria da população, correta e digna, assisto impotente o alastrar-se célere da praga nas camadas mais elevadas do Poder, como que “institucionalizando-se”.

Não creio absolutamente em CPI para qualquer destes escândalos. Seria um desperdício a mais, porque acabaria desembocando na velha e conhecida mesmice corporativa, amnésica. O organismo está muito deteriorado, acobertar-se-iam os maiorais que prosseguiriam como hienas, sorrindo, vencedores.

Há porém um dado no mínimo curioso, até agora: o mar de lama tem poupado os estados do sul do país. Por que a “discriminação”? Sabemos que em política partidária no Brasil, não abundam vestais.

Na minha modesta visão, imagino que nos bolsões miseráveis do norte e nordeste, onde vicejam analfabetismo, desnutrição, desesperança, hanseníase, tuberculose, leishmaniose, os mais baixos IDH, e sobrevivem anacronismos incompatíveis com um mundo em célere desenvolvimento - satrapias, oligarquias, dinastias, capitanias hereditárias etc. - a difusão de tais mazelas será sempre facilitada.

Somente através da EDUCAÇÃO, instalada como meta prioritária, conseguiremos reverter este quadro dantesco.

A corrupção endêmica e suas trágicas conseqüências, como agora presenciamos, será reduzida a níveis irrisórios porque a consciência crítica funcionará como antídoto poderoso.

E a Democracia será exercida, de fato, para e pelos cidadãos. Os que se habilitarem aos cargos eletivos haverão de ser responsabilizados, cobrados pelos que os elegem, visando sempre o bem comum, ao contrário do que atualmente sucede, quando prevalecem interesses pessoais espúrios, levando à débâcle de valores éticos que perplexos presenciamos.

A imprensa e demais meios de telecomunicações RESPONSÁVEIS, bem orientados, isentos de manipulações oportunistas, serão partícipes ativos de um processo de esclarecimento nacional, que nos leve ao destino almejado pela maioria decente de brasileiros inconformados, desiludidos e impotentes. 

*Cidadã maranhense morando atualmente no Rio de Janeiro

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