Por Salvador Fernandes*
Alguns blogueiros da imprensa ludovicense têm postado com frequência notícias de nepotismo cruzado envolvendo autoridades superiores dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Noticia-se uma verdadeira farra de troca de favores centrada, preferencialmente, em parentes próximos. É a fina flor da elite maranhense abocanhando uma fatia expressiva do orçamento estadual. Boa parte, parasitas que ostentam riquezas duvidosas com espaço cativo nas colunas sociais. A meritocracia que se dane, estudar por meses e anos a fio para garantir o ingresso no serviço público mediante a aprovação em concurso, como dispõe a Constituição Federal, nem pensar. O que importa é a relação de parentesco, por ela se alcançam os elevados postos da burocracia e polpudas remunerações. O ócio é a norma; o labor, exceção, mas o cargo DAS é condição do acordo. É a supremacia da máxima de que uma "mão lava a outra".
Acham tudo normal. Dizem que faz parte do exercício do Poder. Quando denunciados, muitos preferem o silêncio dos mortos. Na imprensa, poucos comentam. Não pode ser tema na grade da mídia governista. Nos seus atos, maculam os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e da eficiência para fazer valer tratativas escusas, sempre com as digitais do privilégio familiar.
Fenômeno recorrente, porém indignante. Órgãos que deveriam ser republicanos, não passam de espaços burocráticos opacos de afirmação de privilégios pessoais, em detrimento de regras universalistas. Se não bastasse, choca qualquer cidadão o descaso de órgãos estaduais de controle da gestão pública, como o Ministério Público e o Tribunal de Contas. Em âmbito estadual, não se tem informação de nenhuma ação com vistas a conter esta quermesse com o dinheiro público. Nos municípios, alguns promotores se aventuram, diga-se numa tarefa quase sempre inglória, em tentar estancar a escancarada prática do nepotismo direto promovida pelos gestores municipais.
Na sociedade civil, poucas são as vozes que denunciam tal descalabro. Boa parte dos organismos populares, amordaçados pelas transferências governamentais, acaba silenciando. No caso, tem-se o sentimento de que o combate à corrupção pública, à qual o nepotismo está fortemente associado, é saudosismo de ativistas agarrados ao passado. O mais grave, os ditos Partidos da Esquerda maranhense, naturais baluartes na luta contra a corrupção, em regra não se animam em assumir esta “sensível” empreitada política. Uns por acharem que esta questão não passa de uma falsa moralidade burguesa, outros por terem, quando à frente dos governos estadual e municipais, se lambuzado nas mesmas práticas nepotistas.
Aqui, deixando de lado os melindres e as elucubrações fatalistas, pode-se afirmar que a maldita herança patrimonialista da coroa portuguesa é preservada e amplamente exercitada. Para eles é benigna, perene e imutável.
Salvador Fernandes é Servidor Público Federal, Economista e Ex-Presidente Estadual do PT/MA
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